É na infância que se aprende…a alimentação adequada!

Por Nutricionistas: Natalie Dantas, Ana Flávia, Camila Vieira, Josane Alexandrino e Márcia Coelho.

A Agência Nacional das Nações Unidas lançou um apelo global para que todos os países cobrem impostos sobre as bebidas açucaradas e, assim, reduzam a atual epidemia de obesidade e diabetes, que afeta centenas de milhões de pessoas. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), um imposto sobre o aumento do preço das bebidas açucaradas em torno de 20% resultaria em reduções similares no consumo desses produtos, de acordo com o relatório preparado por especialistas da organização. Ressalta-se que a OMS recomenda que o consumo de açúcares livres se mantenham abaixo de 10% de suas necessidades energéticas diárias, e abaixo de 5%, para se obter benefícios adicionais à saúde. Uma lata de refrigerante convencional contém mais de 100% de todos os açúcares livres recomendados para um dia, conforme a OMS.

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Dados da Organização Mundial de Saúde apontam a obesidade como um dos maiores problemas de saúde pública no mundo. A projeção é que, em 2025, cerca de 2,3 bilhões de adultos estejam com sobrepeso; e mais de 700 milhões, obesos. O número de crianças com sobrepeso e obesidade no mundo poderia chegar a 75 milhões, caso nada seja feito. No Brasil, a obesidade vem crescendo cada vez mais. Alguns levantamentos apontam que mais de 50% da população está acima do peso, ou seja, na faixa de sobrepeso e obesidade. Entre crianças, estaria em torno de 15%.

É diante deste cenário atual de transição epidemiológica e nutricional no país, com o aumento significativo de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), que visamos incentivar cada vez mais a promoção da alimentação e nutrição adequados desde a infância, como preconizam as vertentes e diretrizes do Ministério da Saúde.

Resultado de imagemNutrição desde a infância

Há uma série de fatores que influenciam a ingestão alimentar e hábitos das crianças. Os hábitos, as preferências e aversões aos alimentos são estabelecidos nos primeiros anos e levados até a fase adulta, quando se atingem frequentemente alterações com resistência e dificuldade.

As principais influências na ingestão alimentar nos anos de desenvolvimento incluem, principalmente: o ambiente familiar, as tendências sociais, as mensagens da mídia, a influência dos colegas, e a presença de enfermidades ou doença. Além disso, as preferências alimentares são os principais determinantes da escolha dos alimentos. Existe uma preferência inata pelo sabor doce e a rejeição pelo sabor amargo e azedo, mas a preferência também é moldada por experiências repetidas com o alimento, com associações ao contexto social e com as consequências fisiológicas da ingestão do alimento.

Nosso primeiro alimento: o leite materno

A amamentação supre todas as necessidades dos primeiros meses de vida para o bebê crescer e se desenvolver sadio. O leite materno é alimento completo pois contém vitaminas, minerais, gorduras, açúcares, proteínas, todos apropriados para o organismo do bebê, além de muitas substâncias nutritivas e de defesa, que não se encontram no leite de vaca e em nenhum outro leite. Ademais, o leite materno dá proteção contra doenças como a diarreia (que pode causar desidratação, desnutrição e morte), pneumonias, infecções, alergias e muitas outras doenças;peitooos

O leite materno é sustentável: é limpo e pronto, não apanha sujeira como a mamadeira, está pronto a qualquer hora, na temperatura certa para o bebê, não precisa ser comprado. Dar de mamar faz o bebê sentir-se querido, seguro, ajuda na prevenção de defeitos na oclusão (fechamento) dos dentes, diminui a incidência de cáries e problemas na fala, melhora o crescimento e desenvolvimento do bebê. Ele é o alimento ideal, não sendo necessário oferecer água, chá e nenhum outro alimento até os seis meses de idade.

Nutrição na idade pré escolar e escolar:

A saúde na idade pré-escolar e escolar, se refletirá definitivamente na adolescência e vida adulta, sendo fundamental que sejam atendidas as exigências nutricionais nestas faixas etárias. A desnutrição na fase pré-escolar, por exemplo, pode levar a alterações físicas, funcionais e anatômicas, repercutindo negativamente no crescimento e desenvolvimento da criança, apatia, retardo da linguagem, diminuição da capacidade de concentração e baixa resposta a estímulos. Além disso, essa fase é um excelente momento para orientação nutricional ativa e participativa, devendo, portanto, a alimentação ser saudável e adequada à faixa etária, respeitando-se as características individuais de cada criança.

A partir dos 2 anos de idade, a criança se distrai com facilidade, dá opinião no cardápio e geralmente tem perda de apetite, conhecida como “anorexia fisiológica”, uma vez que o interesse pelo alimento é substituído pela enormidade de descobertas que a criança faz no dia-a-dia. Aos 3 anos o fator principal é a aparência dos alimentos, amenizado quando a criança se torna segura de suas preferências. Com 4 anos, surge o interesse em preparar as refeições. Por volta dos 4 anos e meio nota-se melhora na alimentação, firmando-se aos 5 anos. Com 8 anos de idade o apetite aumenta surpreendentemente.

Influência da família:

Em relação à família, esta exerce um papel fundamental na alimentação infantil e em seu processo de desenvolvimento psicológico. Atitude superprotetora, disciplina excessiva, abandono, desprezo, ciúmes, doenças infecciosas, podem levar a criança a comportamentos de risco em relação à alimentação, como, por exemplo, a falta de apetite comportamental ou verdadeira:

Falta de apetite por causas comportamentais Falta de apetite por causas orgânicas
Tem origem na dinâmica familiar e sua base é psicogênica. A criança deixa de comer para chamar a atenção e observa que essa tática funciona. Cria-se um ciclo vicioso, no qual, a mãe teme que o filho não coma nunca mais e permite que ele consuma alimentos de fácil aceitação, sem restrição de horários. Este tipo de inapetência pode estar mais comumente associado à deficiência de micronutrientes, especialmente o ferro. A criança apresenta alimentação homogênea pobre em qualidade, associada à apatia e desinteresse pela alimentação de um modo geral e não dependendo da presença da mãe.

Mais sobre este assunto, acesse o nosso tópico sobre o Comportamento Alimentar Infantil.

Por fim, considera-se que os pais são responsáveis na formação alimentar da criança, devendo educar (e serem educados) para a construção de hábitos alimentares saudáveis.

Alimento e alimentação são mais do que o simples fornecimento de nutrientes para o crescimento e manutenção do corpo. O desenvolvimento de habilidades de alimentação, hábitos alimentares e conhecimentos nutricionais comparam-se ao desenvolvimento cognitivo que ocorre em uma série de estágios. Assim, a alimentação e nutrição adequadas são requisitos essenciais para o crescimento e desenvolvimento do ser humano, desde antes do nascimento até o fim de seus dias.

Educação consciente…

No dia 12 deste mês é comemorado anualmente o dia das crianças. Apesar de a data ter sido promovida com o objetivo de comercializar brinquedos, é necessário ter um olhar sobre a mesma, como mais uma forma de criar oportunidades para o desenvolvimento de hábitos saudáveis, que sejam suportes para seu desenvolvimento e crescimento adequados. Dessa forma, devemos continuar incentivando as ações que visem a redução do consumo de alimentos ultraprocessados, “junk foods” e “fast foods”, influenciados diariamente e de forma exacerbada por meio das mídias e redes sociais.

Brincadeira de criança, como é bom!

Evidências comprovam que as crianças têm se distanciado das brincadeiras, e se conectados cada vez mais aos aparelhos eletrônicos. Fazendo parte da rotina de muitas crianças e adolescentes, tais eletrônicos conectados à internet móvel aumentam drasticamente o contato dos pequenos às telas, um importante indicador de sedentarismo. Isso pode ser até mais prejudicial que simplesmente não praticar exercícios. Dessa forma, é importante limitar o tempo de tela a não mais que 2 horas por dia. E, em especial, as crianças com menos de 2 anos de idade não devem ser expostas às telas. Tais recomendações desenvolvidas pela American Academy of Pediatrics visam uma melhor saúde geral, prevenindo doenças na infância e na vida adulta, visto que, além do menor gasto energético, ficar paradinho olhando para a tela está associado a um maior consumo de alimentos calóricos e menor consumo de frutas, verduras e legumes.

Algumas dicas para reduzir o tempo de tela das crianças e adolescentes:

  • O quarto é lugar para dormir: não deve ter TV nem computador – isso melhora o sono, além de reduzir o tempo de tela;
  • Durante as refeições não usar celular e nem assistir TV;
  • Fazer o controle do tempo de tela em conjunto com o filho, tentando não ultrapassar o limite de duas horas diárias;
  • Proporcionar outras atividades, como escutar música, brincadeiras e jogos de tabuleiro, por exemplo;
  • Os filhos tendem a imitar os pais, assim é importante que os próprios pais coloquem em prática as dicas acima, dando o exemplo.

lazerinfanciaReferências:

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