Análise foi feita por pesquisadores do Nupens, que atuaram como consultores do Ministério da Saúde e elaboraram relatório sobre a pesquisa

Alimentos ultraprocessados: mais presentes na dieta brasileira,
mas o aumento do consumo tem desacelerado

A quantidade de alimentos ultraprocessados na dieta brasileira tem aumentado nos últimos 20 anos, reduzindo o espaço para opções in natura e minimamente processadas. Essa é uma das conclusões obtidas a partir dos dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares, a POF, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e divulgada nesta sexta-feira.

A análise dos dados da POF relacionados à alimentação brasileira foi feita por pesquisadores do Nupens, que trabalharam como consultores do Ministério da Saúde e elaboraram um relatório sobre a pesquisa. As conclusões foram feitas pelos cientistas Renata Levy, Maria Laura Louzada, Fernanda Rauber, Gabriela Lopes, Rafael Claro e Carlos Monteiro, comparando três edições da POF: 2002/2003, 2008/2009 e 2017/2018.

“É importante observar a tendência de redução da participação alimentos in natura ou minimamente processado e ingredientes culinários processados em todos os estratos do país”, diz Levy. “Esses grupos de alimentos perderam espaço para alimentos ultraprocessados.” Segundo o Guia Alimentar para a População Brasileira, evitar os produtos ultraprocessados e basear a dieta em alimentos frescos é a principal orientação para comer de maneira saudável.

As regiões que mais consomem ultraprocessados são Sul e Sudeste — justamente as que registram maiores índices de desenvolvimento humano. Segundo Levy, o alto desenvolvimento destas regiões está ligado à urbanização, que propicia um ritmo de vida mais acelerado e com menos tempo para a dedicação a uma alimentação adequada. São, ainda, espaços onde a indústria está instalada há mais tempo, o que facilita o acesso da população aos ultraprocessados.

Nas regiões Norte e Nordeste, o consumo de alimentos frescos é superior, o que pode ser explicado pela diferença de preços entre as categorias: no Brasil, os ultraprocessados ainda são mais caros do que os alimentos in natura. Levy aponta, ainda, para a força cultural da região, que tem hábitos bastante enraizados quanto aos preparos culinários, oferecendo mais resistência à mudança do padrão alimentar.

Apesar do aumento da presença destes produtos na dieta brasileira, houve uma desaceleração dessa tendência. Se, no primeiro período de comparação, o aumento foi de 0,6 pontos percentuais ao ano, agora este incremento caiu para 0,3 pontos percentuais ao ano. “Essa desaceleração foi observada nos meios urbano e rural, em todas as regiões do país e para todos os estratos de renda da população”, diz a pesquisadora. “O efeito pode ser um resultado de políticas públicas implementadas em um período recente, com destaque para as ações que têm o Guia Alimentar como base.”

Esta é a quinta edição da POF, pesquisa que tem como objetivo disponibilizar informações sobre a composição dos orçamentos domésticos e as condições de vida da população brasileira, além de gerar bases de dados e estudos sobre o seu perfil nutricional. Veja a pesquisa na íntegra.