Nota sobre a Covid-19 na RMSP

25/11/2020 completamos 9 meses do primeiro caso confirmado de COVID 19 no Brasil, notificado em 25 de fevereiro de 2020 (9ª semana epidemiológica do ano de 2020) no município de São Paulo. No dia 21 de novembro fechamos a 47ª semana epidemiológica acumulando 41.251 óbitos no estado de São Paulo, 23.757 na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) e 14.169 no município de São Paulo.

O Observatório de Saúde da Região Metropolitana de São Paulo trabalha prioritariamente a partir a partir dos dados secundários disponíveis de fontes oficiais, selecionando-os e observando seus potenciais usos e limitações para o estudo dos temas de saúde. Desde o início da pandemia vem estudando o tema e disponibilizou em seu portal um compilado de dados por meio do Painel COVID-19 com os números de óbitos (números brutos) e mortalidade (óbitos por cem mil habitantes) por COVID-19 na RMSP. O painel tem como fonte os dados disponibilizados pela Fundação Seade (https://github.com/seade-R/dados-covid-sp). Essa Fundação processa e disponibiliza as informações sobre o número de casos, de óbitos, leitos e internações relacionados ao coronavírus no Estado de São Paulo a partir de dados oficiais da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo (SES). Os dados estão abertos e disponíveis para pesquisadores interessados no tema e apresentados em um painel interativo disponível em: https://www.seade.gov.br/coronavirus/.

A partir dessas informações é possível apresentar a evolução da pandemia ao longo do tempo, visando especialmente explicitar as tendências deste período. Procurando contribuir com o estudo e a análise das informações sobre a pandemia, a seguir apresentamos (1) o número de óbitos, (2) a ocupação de leitos de UTI destinados para COVID-19, (3) a média móvel de 7 dias do total de leitos de UTI destinados para COVID-19, (4) o número de leitos Covid-19 UTI por 100 mil habitantes e (5) a média móvel de 7 dias dos pacientes internados em leitos de UTI destinados para COVID-19 para a Região Metropolitana de São Paulo no período da 9ª à 47ª semana.

Embora o primeiro caso de Covid-19 tenha sido registrado no município de São Paulo em 25/02, o primeiro óbito foi registrado quase um mês depois, no dia 17/03 (12ª semana epidemiológica), também no município de São Paulo. Desde então, pudemos observar a rápida proliferação tanto no próprio município de São Paulo quanto nas regiões que integram a RMSP. 

Passamos rapidamente dos 9 óbitos na capital paulista na 12ª semana para, na semana seguinte, registrarmos 53 óbitos e 150 na subsequente. Nas outras regiões também pudemos observar o rápido avanço desta contaminação, sendo que a partir da 21ª semana atingimos a triste marca de mais de mil óbitos na RMSP e assim continuamos até a 29ª, sendo que o pico foi na 25ª semana com 1.269 óbitos (cerca de 180 óbitos por dia). 

A partir da 30ª semana podemos observar uma lenta e gradual diminuição do número de óbitos por semana, atingindo na 45ª um patamar de 169 óbitos naquela semana. Não há possibilidade de sermos conclusivos em relação às semanas 45 e 46 porque nos dias 06 e 07/11/2020 (45ª semana), 08, 09, 10 e 13/11/20 (46ª semana), o número de casos e de óbitos não foram atualizados em virtude de problemas no sistema federal de notificação de dados da Covid-19. Foi comunicado um possível ataque de hackers ao sistema nesses dias. Porém, mesmo excluindo-se as duas semanas e considerando apenas a 44ª semana, podemos observar que o número chegou a média de 280 óbitos nas semanas 42, 43 e 44, aproximadamente 40 óbitos por dia, um quarto do que havíamos atingido até então. Ainda longe do ideal, porém com relativa melhora. 

Diante disso, há que se ficar atento nas próximas semanas pois, mesmo excluindo-se as semanas comprometidas pelo ataque hacker, pode-se observar uma certa flutuação preocupante na 47ª semana. Se por um lado foram registrados cerca de 280 óbitos nas semanas 42, 43 e 44, na 47ª semana foram registrados 409. A fim de se obter uma suavização dos números e distribuirmos no tempo estas duas semanas comprometidas, podemos realizar uma média de três em três semanas, já que estamos em busca da tendência. Assim, obtivemos para a semana 36, 37 e 38, a média de 588 óbitos; 39, 40 e 41, a média de 446,67; 42, 43 e 44, a média de 285,67 e, finalmente, 45, 46 e 47, a série que devemos ser cuidadosos, a média de 311,33. Assim, mesmo que houvesse um período do represamento dessas informações, devemos permanecer em alerta e acompanhar a evolução destes números para as próximas semanas.

Com o intuito de trazer mais elementos para este panorama, apresentamos também as séries históricas para a taxa de ocupação de leitos de UTI destinados para COVID-19, a média móvel de 7 dias do número de leitos de UTI destinados para COVID-19 e a média móvel de 7 dias dos pacientes internados em leitos de UTI destinados para COVID-19.

A partir dos dados de leitos e internações é possível aferir que, no período de 19/05 (21ª semana) a 21/11 (47ª semana), a tendência da ocupação de leitos de UTI destinados para COVID-19 apresentou, em um primeiro momento, forte tendência de desocupação dos leitos, com destaque à região Sudoeste (região de saúde da RMSP) que apresentou um patamar de cerca de apenas 25% dos leitos ocupados, seguida de uma acentuada tendência de aumento há cerca de um mês. Muito embora ainda apresentem taxas de ocupação em cerca de metade da lotação total, esta tendência pode ligar o alerta para um novo aumento dos números, necessitando um monitoramento atento desta situação. Detalhamos ao lado os dados de 7 em 7 dias.

Uma vez que o cálculo da ocupação de leitos de UTI destinados para COVID-19 é expresso pela média móvel de 7 dias do pacientes internados em leitos de UTI destinados para COVID-19 no dia sobre a média móvel de 7 dias do total de leitos de UTI destinados para COVID-19 no dia, poderia-se argumentar que tal taxa teria sido influenciada pela involução do número de leitos no período, ou seja, poderíamos incorrer em uma leitura enviesada pela diferenciação no denominador do indicador. Para que possamos observar o comportamento destas taxas, destrinchamos o indicador.

Podemos observar um acentuado aumento do número de leitos seguido de sua gradual diminuição, em especial no último mês. O município de São Paulo, por exemplo, passa de 2.868 leitos em 19/05 para cerca de 3.800 disponíveis ao final de junho, um aumento de 1.000 leitos em um mês. Gradualmente há redução deste número até ao final de outubro, voltando a se elevar até atingir o patamar de cerca de 2.800 leitos e vindo a diminuir em seguida. Tal tendência foi observada nas outras regiões, como podemos acompanhar pela tabela 3.

Uma maneira de acompanhar a disponibilidade de leitos é a partir do número de leitos por 100 mil habitantes. Tal indicador mensura a relação entre a oferta de leitos hospitalares e a população residente, nos permitindo uma padronização da unidade de análise a partir da população possibilitando a comparação da população com a disponibilidade deste recurso. Comparativamente, podemos notar que a região sudeste (região de saúde da RMSP) possui maior disponibilidade de leitos do que o município de São Paulo, mesmo com uma cobertura mais baixa.

Por fim, os últimos dados nos permitem acompanhar a média móvel de 7 dias para pacientes internados em leitos de UTI destinados a COVID-19 pelas regiões de saúde da RMSP. Todas essas regiões apresentaram uma tendência ao aumento do número de pacientes internados em leitos de UTI para COVID-19 até meados do meio do ano (mês de junho e julho, até então os meses mais críticos da pandemia) para, posteriormente, uma tendência gradual de queda desses números até o fim de outubro, quando novamente apontou para uma tendência de crescimento. 

Com a ressalva de que este número é expresso pela soma de pacientes de UTI suspeitos e pacientes de UTI confirmados com a doença, ou seja, não apenas os casos confirmados da doença integra este número, podemos aferir que há aproximadamente um mês (desde o final de outubro), podemos observar uma tendência de aumento destes números. 

Assim, muito embora tenha ocorrido uma expressiva diminuição no número de leitos disponíveis para a internação de pacientes com COVID-19 que poderia explicar o aumento da taxa de ocupação de leitos nas regiões de saúde, podemos também acompanhar o aumento do número das internações.

Algumas considerações Finais

Este boletim teve como proposta promover uma leitura da situação da RMSP em relação à Covid-19 através dos dados disponíveis. Estes apontam uma relativa piora dos indicadores nas últimas semanas em todas as regiões de saúde da RMSP, tanto no que diz respeito ao número de óbitos e internações quanto na ocupação de leitos.

Embora possamos acompanhar nas últimas semanas uma piora dos indicadores, precisamos e devemos monitorar os dados diariamente para observarmos o comportamento da pandemia nas próximas semanas com cautela É o momento de reforçarmos as medidas de prevenção e de contenção do vírus. 

Precisamos ainda nos atentar a algumas questões e inquietações que desde o início da pandemia procuramos maiores esclarecimentos.  

  • Como mensurar a distribuição no território do número de casos confirmados do dia, uma vez que há uma distribuição desigual das estratégias de testagens e no número de testes disponibilizados para a população?
  • Qualidade dos testes
  • Quais as estratégias foram mais efetivas para o combate ao coronavírus
  • Qual o impacto desta pandemia para a sociedade como um todo e como lidar com ele?
  • Qual a influência dos 6 dias sem informação?
  • Segunda onda?

Optamos em adotar a mesma nomenclatura utilizada no Plano São Paulo para designarmos as nossas regiões de saúde.

Regiões de Saúde:

Norte (Região de Franco da Rocha): Cajamar, Caieiras, Franco da Rocha, Francisco Morato, Mairiporã.

Leste (Região do Alto Tietê): Guarulhos, Arujá, Santa Isabel, Guararema, Salesópolis, Biritiba-Mirim, Mogi das Cruzes, Suzano, Itaquaquecetuba, Poá, Ferraz Vasconcelos.

Sudeste (Região do Grande ABC): Diadema, Mauá, Ribeirão Pires, Rio Grande da Serra, Santo André, São Bernardo do Campo e São Caetano do Sul.

Sudoeste (Região dos Mananciais): Cotia, Embu, Embu-Guaçu, Itapecerica da Serra, Juquitiba, São Lourenço da Serra, Taboão da Serra e Vargem Grande Paulista.

Oeste (Rota dos Bandeirantes): Barueri, Carapicuíba, Itapevi, Jandira, Osasco, Pirapora do Bom Jesus, Santana do Parnaíba.

Município de São Paulo

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