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Por que o surto de zika no Brasil e o feminismo estão relacionados?

Em 2015 a grave epidemia de casos de zika vírus no país se concentrou na região Nordeste e se relacionava com a pobreza, falta de saneamento e saúde básica de algumas localidades. No mesmo ano, foi confirmada pelo Ministério da Saúde a associação do vírus da zika em gestantes e o desenvolvimento de microcefalia nos bebês. Porém, a cobertura jornalística do caso deixou muitas lacunas e não cumpriu com seu papel fundamental de levar informação e conhecimento para as pessoas que precisavam.

A pesquisadora Bruna Gonçalves realizou um mapeamento da controvérsia veiculada nos meios de comunicação, a partir da análise de jornais de grande circulação e concluiu que houve um apagamento dos discursos das mulheres nas reportagens, além de um esquecimento gradativo do assunto no país. A propagação do medo do zika foi muito maior do que a divulgação de informações sobre contracepção eficaz e diagnóstico da doença durante a época da epidemia. Com a notificação da situação de emergência pela Organização Mundial de Saúde (OMS), a procura pelo aborto em países da América Latina aumentou, assim como o debate dentro da comunidade científica, e fora dela, sobre a ilegalidade do aborto nos casos de gestantes infectadas com a doença. Mas a fala das mães que fizeram a opção pela interrupção ou que estavam grávidas e infectadas, além das que têm filhos portadores da síndrome congênita do zika, não foram priorizadas pelos veículos midiáticos.

A autora cita uma pesquisa realizada pela Human Rights Watch em que é confirmada a falta de acesso à informação pelas gestantes, e pelas mulheres que não conseguiram evitar a gravidez no contexto da epidemia por falta de serviços básicos de saúde, onde poderiam recorrer à métodos clandestinos de interrupção da gravidez.

Esse tema também é explorado pela Prof. Clare Wenham, diretora do mestrado em Política de Saúde Global da London School of Economics and Political Science. Wenham esteve na FSP/USP no dia 12 de agosto para ministrar a palestra “Limpe sua casa e não engravide: Zika e uma crítica feminista da securitização da Saúde Global”. A professora questiona o quê exatamente foi securitizado para controlar o surto da doença

 

No caso do zika o que nós vimos ser segurizado não foi o vírus, mas o vetor…

 

Para Wenham houve uma desconexão entre o grupo alvo das campanhas de políticas públicas contra a epidemia e o grupo vulnerável pela doença

 

Ao longo das campanhas e das políticas que foram lançadas o foco foi garantir que o vetor não se espalharia, e isso é importante porque o foco correto na narrativa seriam as mulheres que foram afetadas, e o foco foi unicamente naquele controle.

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Em visita à FSP/USP para ministrar a palestra “Limpe sua casa e não engravide: zika e uma crítica feminista da securitização da Saúde Global”, a Professora Clare Wenham fala sobre o apagamento das mulheres nas campanhas de controle do surto de zika. ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ Para Wenham houve uma desconexão entre o grupo alvo das campanhas de políticas públicas contra a epidemia e o grupo vulnerável pela doença: "ao longo das campanhas e das políticas que foram lançadas o foco foi garantir que o vetor não se espalharia, e isso é importante porque o foco correto na narrativa seriam as mulheres que foram afetadas, e o foco foi unicamente naquele controle." ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ Clare Wenham é diretora do mestrado em Política de Saúde Global da London School of Economics and Political Science. ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ #fsp #usp #zikavirus #zika #feminismo #science #pesquisacientifica #women

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