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Pesquisa da USP analisa o fenômeno de expansão das clínicas médicas de baixo custo como Dr. Consulta e outras

Foto: Ricardo Jurca.

Analisar o fenômeno de expansão das clínicas médicas de baixo custo em área de vulnerabilidade socioeconômica e civil em São Paulo, tendo como foco diferentes conformações de riscos relacionadas às necessidades de acesso aos serviços de saúde, foi o objetivo da tese de doutorado Individualização social, assistência médica privada e consumo na periferia de São Paulo, de autoria do sociólogo Ricardo de Lima Jurca, defendida no último mês de abril na Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP.

Parte da reflexão teórica e de contexto se desenvolveu no marco do projeto “Individualização no Contexto das Mudanças Sociais Contemporâneas: Desafios para a Saúde Pública no Brasil”, com financiamento Fapesp (processo nº 2015/16218-0) desenvolvida por uma equipe interdisciplinar na Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo coordenada pela Profa. Dra. Aurea Maria Zöllner Ianni, docente do Departamento de Política, Gestão e Saúde desta Faculdade. A pesquisa também foi financiada por bolsa Capes.

A pesquisa foi realizada a partir de um estudo etnográfico de usuários de serviços públicos e privados de assistência à saúde, residentes em Heliópolis, favela em área de classe média na região metropolitana de São Paulo, coberta e equipada pelos serviços de saúde do Sistema Único de Saúde (SUS). Foram analisadas e discutidas cerca de trinta entrevistas, além de conversas informais com profissionais da área da saúde, dirigentes sociais e gerentes, tanto ligados ao sistema público quanto às clínicas particulares, seguindo a cadeia de produção dos serviços de saúde destinados às famílias pobres, que também compuseram o quadro analítico da pesquisa. A entrada nos locais de entrevista foi mediada por Agentes Comunitários de Saúde e por integrantes de Movimentos Sociais de Associações de Bairro.

O estudo analisa a inserção do(a)s usuário(a)s do sistema público de saúde no cuidado médico individual tecnológico do mercado de clínicas médicas, planos de saúde e laboratórios de diagnóstico, todos de perfil “popular”. Segundo o pesquisador Ricardo, “nesse cenário, questiona-se, teoricamente, de modo geral, a transformação essencial, e igualmente irreversível, do estatuto do indivíduo, ou quais formas de proteção são compatíveis com a transformação do trabalho e dos modos de produção na saúde à qual assistimos no Brasil, incidindo especialmente sobre a mobilidade social a partir dos anos 2000”.

Mais especificamente, o estudo permite pensar sobre os cidadãos consumidores, ou seja, os indivíduos cujo acesso aos serviços de saúde define os limites flutuantes entre o mercado e o Estado, como esses indivíduos situam-se na interface da gestão da saúde, incluindo aqui as clínicas de baixo custo para complementar o tratamento de saúde no sistema público. Trata-se de mostrar, em grande angular, como na experiência cotidiana da população as políticas, os agentes e as instituições públicas são atravessadas pelas trajetórias do(a)s usuário(a)s.

Ricardo de Lima Jurca é pesquisador do grupo Teoria Social, Mudanças Contemporâneas e Saúde da Faculdade de Saúde Púbica coordenado pela Profa. Dra. Aurea Maria Zöllner Ianni.

 

Mais informações com o pesquisador Ricardo, pelo e-mail rljurca@usp.br