CPaS-1 – Coletive de Pesquisa em Antropologia, Arte e Saúde Pública

CRD e Pela Vidda na Pandemia

Publicado originalmente 19/03/2020.

O grupo Pela Vidda/SP é uma ONG sem fins lucrativos voltado a pessoas que convivem com HIV/Aids, buscando trazer acolhimento, aconselhamento e orientação para pessoas em situação de vulnerabilidade. Devido à crítica fase, a ONG, conhecida por suas diversas oficinas, sugere atividades online e menos exposição aos seus participantes. Texto de Michel Furquim.

Imagem disponível em <Oficina (bertioga.sp.gov.br)> . Acesso em 29/11/2021

As atividades da ONG Grupo Pela Vidda/SP e do Centro de Referência e Defesa da Diversidade foram suspensas a partir de segunda (16/03/2020) até dia 03 de Abril. A ONG e o centro de acolhida são os principais serviços que oferecem acolhimento para população LGBTQIA+, como acolhimento psicossocial, auxílio jurídico, rodas de conversas, exibição de séries e filmes, oficinas, etc. Muitas das pessoas que circulam por estes espaços são pessoas trans, travestis, gays e lésbicas vulnerabilizadas – em situação de rua, desempregadas(os), profissionais do sexo, usuária(o) de substâncias psicoativas e/ou em situação de extrema pobreza).

Com as confirmações dos casos de covid-19 na cidade de São Paulo e seguindo as orientações da Secretaria Estadual da Saúde e da Organização Mundial da Saúde, os dois serviços decidiram suspender suas atividades para ajudar na contenção do vírus. A maioria das atividades são realizadas em grupo e o CRD possui um espaço de convivência, onde várias pessoas circulam diariamente, o que levou a decisão ser tomada de forma emergencial.

O CRD oferece oficinas de cabeleireira (o), manicure, maquiagem e barbearia, muito procuradas principalmente por mulheres trans e travestis, que buscam no aprimoramento destas funções como formas de acessar o mercado de trabalho. Muitas não são alfabetizadas ou são semi alfabetizadas, devido a transfobia e à violência que expulsam estas pessoas da vida escolar desde muito cedo. Isso faz com que, como mostra a pesquisa de Michelle Borges Miranda (2018), muitas travestis e mulheres trans (sobre)vivam da prostituição ou de programas assistenciais, como o Transcidadania.

Neste momento, algumas das usuárias do serviço foram orientadas a ficar em casa, sempre que possível. Aquelas que são profissionais do sexo, são orientadas a oferecer trabalho virtual (sites, mensageiros e plataformas que permitam exibição online), evitar receber clientes em casa (preferir motéis), evitar ficar próxima de outras profissionais na “pista” e se o programa for necessário, tomar banho antes e depois do atendimento.

Outras oficinas oferecidas são de yoga, inglês, francês, voguing e informática, que contribuem para uma saúde mental e emocional, uma vez que tornam-se espaços de construção de redes de contatos e de cuidado, além de contribuir para a sensação de pertencimento grupal, algo fundamental para pessoas que possuem experiência de exclusão social, preconceitos e violências.

Os atendimentos dos profissionais da psicologia também foram interrompidos, sem previsão de retorno. O grupo é formado por psicólogos formados que atendem de forma voluntária e por estagiários do último quinto ano da graduação das universidades Mackenzie e PUC (supervisionados pelos professores das instituições de ensino). Os atendimentos fazem parte de um trabalho que visa fornecer um acolhimento à pessoas que muitas vezes não possuem condições financeiras de arcar com atendimentos particulares de psicólogo.

O acolhimento psicossocial também permite que estas pessoas sejam acolhidas dentro de suas vivências, identidades de gênero e orientações sexuais, uma vez que a maioria dos profissionais e estagiários tem alguma estreiteza com os temas gênero e sexualidade. Na ausência dos atendimentos presenciais, alguns dos voluntários decidiram manter as consultas de forma virtual (Skype ou Whatsapp), no entanto outros não poderão seguir nesta modalidade, pela razão que alguns usuários dos serviços não possuem telefone celular e/ou acesso a internet.

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