CPaS-1 – Coletive de Pesquisa em Antropologia, Arte e Saúde Pública

Stella bem patrocinada

No mês que comemoramos o dia da Mulher Negra, Latino e Caribenha, nós do Cpas-1 gostaríamos de lembrar e homenagear algumas mulheres brilhantes que construíram outras possibilidades de fim do mundo.

Stela do Patrocínio, mulher negra, nascida no  estado do Rio de Janeiro no dia 9 de janeiro de 1941.

Uma  artista  vítima de um cruel projeto de apagamento; sua trajetória tornou-se irrastreável, e sua arte, inacessível, sofreu as violências de uma internação no manicômio Juliano Moreira.

“Eu sou Stella do Patrocínio Bem patrocinada.

Estou sentada numa cadeira

Pegada numa mesa nêga preta e criola

E eu sou uma nêga preta e criola

Que a Ana me disse.”

Stella do Patrocinio, mulher negra retinta, de cabelo baixo, com uma lata segurada na altura do rosto, próximo a boca.
Imagem retirada do Stela do Patrocínio (1941-1997) (anarquivoo.blogspot.com)

Stella passou a ser compreendida enquanto artista em potencial quando começou a fazer parte do projeto  de Livre Criação Artística do. As coisas que falava e o modo como as falava eram envoltas por um tom poético, chamando a atenção dos professores de arte, principalmente de Carla Guagliardi, que começou a gravar em fitas cassetes algumas das conversas que tinha com Stella. 

“eu já fui operada várias vezes

fiz várias operações

sou toda operada

operei o cérebro, principalmente

eu pensei que ia acusar

se eu tenho alguma coisa no cérebro

não, acusou que eu tenho cérebro

um aparelho que pensa bem pensado

que pensa positivo

e que é ligado a outro que não pensa

que não é capaz de pensar nada e nem trabalhar”

Em razão de uma parada cardiorrespiratória Stella faleceu em 1992.  10 anos depois seu   livro “Reino dos bichos e dos animais é o meu nome” é publicado, uma reunião de suas falas ao longo dos anos,  organizadas por Viviane Mosé em forma de poesia. A obra obteve tanto sucesso que, em 2002, foi finalista do Prêmio Jabuti e inspirou outras manifestações artísticas.

“Eu sou muito medrosa

Cínica

Covarde

Sonsa

Injusta

Eu não sei fazer justiça

Não sei como faz justiça

Eu não sei fazer

Eu não sei fazer justiça

Não sei como faz justiça”

Linn da quebrada

É possível encontrar no youtube o documentário “Stela do patrocínio, a mulher que falava coisas” , dirigido por Márcio de Andrade. E em 2021, foi homenageada por Linn da quebrada na canção “ Medrosa – ode à Stela do Patrocínio”.

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