Parte da cultura alimentar nacional, a carne bovina está presente em diversas de nossas refeições — dos pratos feitos cotidianos ao churrasco do fim de semana. Seu consumo, no entanto, tem alto custo ambiental. Ao separar uma amostra representativa da população brasileira em cinco grupos, dos que menos aos que mais consomem carne bovina, constata-se que a dieta daqueles que mais consomem carne tem pegadas de carbono e hídrica três a quatro vezes superiores à dieta dos que menos ingerem o alimento.

Esta é a conclusão do estudo Consumo alimentar no Brasil: influência da carne bovina no impacto ambiental e na qualidade nutricional da dieta, publicado pela pesquisadora do Nupens Josefa Garzillo (em parceria com outros sete cientistas do Núcleo) na Revista de Saúde Pública.

Garzillo partiu de dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares do IBGE, realizada entre 2008 e 2009. No total, foram analisados dados de alimentação de cerca de 35 mil indivíduos de todas as macrorregiões do país. A análise dos impactos ambientais levou em conta as pegadas hídrica e de carbono da deita. Entende-se por pegada hídrica o volume de água utilizado e, por pegada de carbono, a emissão de equivalentes de gases do efeito estufa na produção de alimentos.


Perfil do consumo de carne bovina

Os dados mostraram que o consumo alimentar da população brasileira com dez ou mais anos de idade tem média diária de 1901 kcal — destas, 177 kcal (9,45%) são provenientes de carne bovina. A ingestão de carne aumenta entre pessoas do sexo masculino, em pessoas com maior escolaridade e com maior renda, mas diminui com a idade. O Centro-Oeste e o Norte são as regiões que mais a consomem.

Os pesquisadores compararam o impacto ambiental do consumo de carne bovina ao impacto do consumo dos demais alimentos. Nessa análise, as pegadas de carbono e hídrica da carne foram maiores em 18 e 11 vezes, respectivamente. Diferenças significativas também foram observadas em relação à análise de nutrientes, com a carne bovina tendo maior teor de proteína, ferro, zinco e vitamina B12 e também gordura saturada e sódio do que os outros alimentos. Já o teor em açúcar de adição e o de fibras foi superior nos demais alimentos.


Impacto ambiental e qualidade da dieta

A conclusão dos autores do estudo é que o aumento da participação de carne bovina na dieta leva ao aumento linear e significativo dos impactos ambientais analisados. Do ponto de vista nutricional, no entanto, o consumo de carne bovina tem duas facetas. Por um lado, ela leva a reduções substanciais na prevalência da ingestão insuficiente de proteína, ferro, zinco e vitamina B12. Por outro, aumenta as prevalências de ingestão insuficiente de fibras e excessiva de gordura saturada e sódio — nutrientes relacionados ao desenvolvimento de doenças crônicas.

O artigo destaca a existências de dietas que têm, ao mesmo tempo, adequação nutricional e menores impactos ambientais. “A dieta mediterrânea e a nova dieta nórdica — ambas com predominância de vegetais e baixo consumo de carnes — são exemplos de padrões alimentares saudáveis que contribuem com a redução dos impactos no ambiente”, escrevem os pesquisadores.

Os autores frisam, ainda, que medidas de restrição do consumo de carne bovina devem ser feitas de maneira cautelosa, já que o alimento é fonte de nutrientes essenciais. Leia o artigo.