Após avaliação de milhares de estudos sobre o tema, cientistas concluem que o consumo de comida excessivamente processada está relacionado ao desenvolvimento de condições como obesidade e doenças do coração
Há cerca de dez anos, o processamento de alimentos surgiu como uma hipótese para explicar a epidemia de doenças crônicas não transmissíveis que vinha — e vem — atingindo diversos países. Desde então, cientistas mundo afora têm realizado uma série de estudos para entender se a ação excessiva da indústria tem conexão com condições como obesidade e síndrome metabólica.
Nas últimas semanas, foram publicadas duas revisões sistemáticas, ou seja, pesquisas que avaliam uma grande quantidade de estudos anteriores sobre o tema. As publicações não têm relações com o Nupens.
As conclusões não deixam dúvidas: existe associação entre o consumo de alimentos ultraprocessados e o desenvolvimento de doenças crônicas.
A publicação mais recente é de um grupo de cientistas de instituições iranianas. Com o objetivo de revisar o que a literatura científica diz sobre comida ultraprocessada e o risco de sobrepeso e obesidade, os pesquisadores analisaram cerca de 2400 estudos.
“Nossa análise mostra que a ingestão de comida ultraprocessada está diretamente associada ao ganho excessivo de peso”, destacam os cientistas. “Além disso, o consumo destes alimentos implica em uma maior probabilidade em desenvolver obesidade.”
Esta é a primeira análise a investigar a associação com base em participantes tanto de países desenvolvidos como de países em desenvolvimento.
Veja o estudo na íntegra (em inglês).
Outra revisão sistemática foi publicada por cientistas de instituições italianas. Desta vez, o objeto de análise foi a associação entre o consumo de ultraprocessados e o estado de saúde em geral — e não apenas o fenômeno de ganho de peso.
Assim como ocorreu na análise dos pesquisadores do Irã, cerca de 2600 pesquisas foram avaliadas. O trabalho também é pioneiro em investigar o impacto dos produtos alimentícios na saúde em geral, sem um recorte específico de doenças.
A conclusão do estudo aponta para a existência de uma possível associação entre o alto consumo de ultraprocessados e um maior risco cardiometabólico — principalmente pelo desenvolvimento de síndrome metabólica, sobrepeso, obesidade, aumento de circunferência da cintura e redução de colesterol do tipo HDL.
Além disso, foi detectada uma associação com maior risco de mortalidade em geral, doenças cardiovasculares e, até mesmo, depressão.
Veja o estudo na íntegra (em inglês).
Mais evidências
Ainda em este ano, outras duas revisões sistemáticas engrossaram o caldo de evidências do potencial nocivo dos ultraprocessados. Uma delas é brasileira, executada por cientistas da Universidade Federal de Pelotas, no Rio Grande do Sul (leia na íntegra), e a outra é assinada por pesquisadores de uma universidade australiana (leia na íntegra, em inglês).
Ambos os trabalhos chegaram a conclusões que seguem a mesma linha da maior parte dos estudos científicos: o consumo de alimentos ultraprocessados é positivamente associado a excesso de peso e obesidade, hipertensão arterial e síndrome metabólica. A análise australiana afirma, ainda, que nenhum dos estudos avaliados pela equipe mostrou benefícios à saúde associados à ingestão de ultraprocessados.
O Nupens segue produzindo e avaliando as diversas evidências científicas na área da epidemiologia nutricional.