O consumo de alimentos ultraprocessados no Brasil é influenciado por fatores como sexo, idade e escolaridade: entre os brasileiros, ser homem, ser jovem e ter escolaridade inferior à universitária são condições que aumentam, de forma independente, o consumo desses produtos.

A conclusão é resultado da pesquisa “Consumo de alimentos ultraprocessados e associação com fatores sociodemográficos na população adulta das 27 capitais brasileiras”, assinada por Caroline dos Santos Costa e por outros cinco cientistas do Nupens. O trabalho foi publicado na Revista de Saúde Pública.

Os pesquisadores analisaram dados da onda de 2019 do sistema Vigitel, que coleta dados de milhares de habitantes de todas as capitais brasileiras anualmente. Na onda em questão, o questionário do Vigitel incluiu um módulo de questões sobre o consumo de ultraprocessados, dividindo-os nos seguintes 13 subgrupos:

– refrigerantes
– suco de fruta em caixa, caixinha ou lata
– refresco em pó
– bebida achocolatada
– iogurte com sabor
– salgadinho de pacote (ou chips) ou biscoito/bolacha salgado
– biscoito/bolacha doce, biscoito recheado ou bolinho de pacote
– chocolate, sorvete, gelatina, flan ou outra sobremesa industrializada
– salsicha, linguiça, mortadela ou presunto
– pão de forma, de cachorro-quente ou de hambúrguer; maionese, ketchup ou mostarda margarina
– macarrão instantâneo, sopa de pacote, lasanha congelada ou outro prato pronto comprado congelado

Produtos mais consumidos

Entre as categorias mais consumidas pelo grupo analisado estão margarina (42,6%), pão de forma/cachorro-quente/hambúrguer (32,8%), refrigerantes (27,7%) e salsicha, linguiça, mortadela ou presunto (26,5%).

Sobremesas industrializadas, salgadinhos de pacote e biscoitos doces também tiveram percentuais significativos. Juntos, os grupos restantes tiveram consumo indicado por menos de 20% dos entrevistados.

Perfil

A análise mostrou que três características foram associadas a um maior consumo de ultraprocessados: ser do sexo masculino, ser mais jovem e ter escolaridade inferior à universitária. Estes aspectos são independentes — ou seja, referem-se a três perfis diferentes.

Segundo os pesquisadores, a associação com a idade se repete em outros países e pode ser explicada por uma maior preocupação com a saúde entre as pessoas mais velhas. As associações com sexo e indicadores socioeconômicos são controversas. Enquanto alguns países mostraram resultados parecidos com os do Brasil, outros seguem em direção oposta.

A Pesquisa Nacional de Saúde de 2019, ainda indisponível, deve ajudar a esclarecer essas associações. Os cientistas afirmam, no entanto, que a identificação dos grupos mais sujeitos ao consumo de ultraprocessados pode ajudar a desenvolver políticas públicas de alimentação e nutrição que reduzam a ingestão desses produtos.

Veja a pesquisa na íntegra.