Foto: World Obesity Federation

A prevalência de obesidade quase dobrou nas capitais brasileiras nos últimos anos. Entre os anos de 2006 e 2020, o número de pessoas que apresentam quadro da doença passou de 11,8% para 21,5%. Os dados são da Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), e foram consolidados e divulgados pelo Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (IEPS) em uma nota técnica assinada por seis pesquisadores — entre eles, Leandro Rezende, membro do Nupens/USP.

Anualmente, a Vigitel faz um inquérito com habitantes de todas as capitais brasileiras, reunindo dados para monitorar fatores relacionados a doenças crônicas não transmissíveis. Como os dados de 2020 sofreram um atraso significativo em sua divulgação, o IEPS analisou a série histórica de 2006 a 2020 para observar estatísticas e tendências da área. Veja a íntegra da nota técnica.

 

Evolução das doenças crônicas

O agravamento contínuo da obesidade chamou a atenção por um dado específico: até 2011, nenhuma capital brasileira tinha prevalência superior a 20% da população. Em 2020, 16 capitais bateram a marca. A prevalência de hipertensão arterial e de diabetes mellitus tiveram estabilidade relativa: ao longo do tempo analisado, ficaram em cerca de 25% e 7%, respectivamente.

Os autores da nota técnica destacam que os dados surpreendem pelo fato de que 2020 foi um ano marcado pelo alto índice de insegurança alimentar no Brasil. Segundo dados da Rede Penssan, mais da metade dos domicílios brasileiros experimentaram algum grau de insegurança alimentar e 9% conviveram com fome.

 

Fatores de risco comportamentais

Comportamentos ligados a risco de desenvolvimento de doenças crônicas tiveram bastante variação entre as capitais. No ano de 2020, o consumo de cinco ou mais grupos de alimentos ultraprocessados, por exemplo, foi maior nas cidades de Porto Alegre (19,5%), Boa Vista (17.2%), Macapá (16,9%), Curitiba (16,4%) e São Paulo (16,2%). Curiosamente, as capitais paranaense e gaúcha também estão entre as maiores consumidoras de alimentos in natura (40,7% e 42,4%, respectivamente), lista liderada por Florianópolis (48,6%) e que inclui, ainda, Belo Horizonte (46,4%) e João Pessoa (39,8%).

Os fatores de risco comportamentais mostraram, ainda, diferenças relevantes quando analisados sob critérios socioeconômicos. De forma geral, o grupo com maior nível de escolaridade apresentou comportamentos mais saudáveis do que grupos menos escolarizados, o que inclui fatores como inatividade física, tabagismo e baixo consumo de frutas e hortaliças. O consumo de ultraprocessados, no entanto, foi maior entre aqueles com escolaridade média (9 a 11 anos de estudo) e alta (12 anos ou mais de estudo).

Veja a nota técnica do IEPS.