Com 25% da população adulta em situação de obesidade e mais de 30% das crianças com sobrepeso, o Reino Unido é, hoje, um dos maiores consumidores de alimentos ultraprocessados no mundo. Apenas entre as crianças, por exemplo, 60% das calorias ingeridas vêm desses produtos.

Este contexto tem feito com que o governo e algumas organizações britânicas olhem cada vez mais para a produção e o consumo de ultraprocessados. O assunto foi tema de uma reportagem recente do jornal The Telegraph, intitulada “Os truques que as empresas usam para nos viciar em comida não saudável” (tradução livre). Leia a reportagem na íntegra (em inglês, sujeita a paywall).

O texto começa com uma frase marcante da Estratégia Nacional de Alimentação, documento recentemente emitido por uma organização britânica: “Os sistemas alimentares que temos hoje são, ao mesmo tempo, um milagre e um desastre”. Isso porque, enquanto observamos, não apenas no Reino Unido, um aumento expressivo das opções de alimentos nas prateleiras dos supermercados, também vemos um aumento da prevalência de obesidade e de outras doenças crônicas não transmissíveis.

De olho no lucro

De acordo com o médico Chris van Tulleken, entrevistado na reportagem, a grande questão do sistema de produção de ultraprocessados é o lucro. “O objetivo não é abastecer as prateleiras dos mercados, mas lucrar com commodities”, disse ele ao veículo. “A não ser que afete os lucros, a sua saúde não interessa às pessoas que produzem ultraprocessados.”

Neste sentido, há uma série de táticas da indústria para maximizar os lucros, sem qualquer tipo de cuidados com os valores nutricionais dos produtos ou seus impactos na saúde do consumidor.

A matéria do Telegraph cita como exemplo o aditivo Pulpiz, que entra na lista de ingredientes como “amido modificado”. Feito à base de carboidrato refinado e água, o Pulpiz é usado para substituir pelo menos 25% dos teores de pasta de tomate, sem comprometer o sabor e a textura. É uma forma de enganar o consumidor, fazendo-o pensar que existe, no produto, mais tomate do que realmente foi utilizado na produção.

Outra estratégia é o uso de corantes e flavorizantes — como os nomes já sugerem, são formas de dar cor e sabor aos alimentos. A reportagem lembra de soluções caseiras para isso, como quando adicionamos cúrcuma ao arroz, para fazer com que os grãos fiquem amarelos e com um sabor diferente, aumentando o interesse pelo alimento.

No caso da indústria, no entanto, a técnica é empregada de outra forma. Segundo a matéria, os aditivos aparecem para fazer com que o consumidor pense, por exemplo, que uma garrafa de água com açúcar tenha suco, já que têm cor e sabor de alguma fruta.

Tulleken lembrou, ainda, que a razão pela qual a indústria usa aditivos não é relacionada à nutrição, mas à utilidade que estes itens têm para a própria indústria. “Não se trata de produzir comida mais barata, mas de encontrar o preço específico por meio do qual as empresas extraem o maior lucro do maior número de consumidores no menor tempo possível”, disse.

Leia a reportagem na íntegra (em inglês, sujeita a paywall).