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Estudo mostra mudança no comportamento alimentar durante a pandemia e impactos no humor

O isolamento social adotado como principal medida de prevenção e controle da pandemia de COVID-19 trouxe mudanças de muitas ordens. No plano individual, foram constatadas alterações nos níveis de estresse, qualidade do sono, consumo alimentar e humor (como níveis de ansiedade e depressão). Um estudo recém-publicado na revista Clinical Nutrition por pesquisadores da FSP-USP investigou as mudanças no comportamento alimentar e mostra um aumento no consumo de alguns grupos de carboidratos, de bebidas alcoólicas e de alimentos calóricos, durante a pandemia. 

O trabalho de Leonardo Dias Negrão e colegas, sob a orientação da professora Elizabeth Aparecida Ferraz da Silva Torres, teve como objetivo descrever a associação e a predição entre o isolamento social durante a pandemia de COVID-19, sintomas de estresse, ansiedade e depressão e consumo alimentar autorrelatados.

Entre as conclusões, o artigo “Pesquisa Online sobre Nutrição e Humor COVID-19: Percepção sobre a dieta aspectos, estresse, ansiedade e depressão no isolamento social da doença de Coronavírus” mostra um aumento notável do consumo de fast foods, bebidas alcoólicas, alimentos calóricos incluindo gorduras e também de bebidas açucaradas. De acordo com o artigo, alimentos ricos em carboidratos foram associados a sintomas de estresse e ansiedade. Esta associação também foi observada quando houve aumento do consumo de fast foods. A diminuição de proteínas, vitaminas e alimentos fontes de fibras também foi associada com sintomas de estresse, ansiedade e depressão.

Embora a maioria dos participantes da pesquisa tenha declarado que o consumo alimentar permaneceu o mesmo, detectou-se um aumento importante em alguns grupos alimentares, como pão, macarrão, batata e mandioca. O consumo de alimentos à base de plantas permaneceu inalterado, de acordo com os dados coletados. Foi referido um aumento de 13,25% de bebidas adoçadas com açúcar, 23,51% de bebidas alcoólicas, 37,25% de adição de açúcar, e 20,42% de fast foods, sendo que 52,7% pararam ou reduziram a prática de atividade física. 

O nível autorreferido de estresse, ansiedade e depressão atingiu 38,8%, 40,90% e 32,90%, respectivamente. Alterações no consumo alimentar para predizer sintomas de estresse, ansiedade ou depressão foram observadas em relação à diminuição de carnes vermelhas, peixes, frango, ovos, laticínios, verduras, legumes e frutas. Da mesma forma, o aumento do consumo de laticínios, gorduras, bebidas açucaradas e comidas rápidas mostrou associação com aqueles sintomas.

O estudo transversal, quantitativo e descritivo, com desenho amostral não probabilístico por conveniência, foi realizado com 1.004 brasileiros, com idade entre 18 e 85 anos, no período de agosto a dezembro de 2020. Foi aplicado um questionário virtual em dados socioeconômicos e de estilo de vida, mudança no consumo alimentar e Escala de Depressão, Ansiedade e Estresse (DASS-21) autorreferida. Os dados foram analisados ​​aplicando-se o teste do qui-quadrado para comparação entre homens e mulheres, e foi aplicada uma regressão logística multinomial ajustada sobre estresse, ansiedade, sintomas de depressão e alterações no consumo de alimentos. Os dados foram expressos em odds ratio (OR) e IC 95%, no software SPSS (versão 26.0). 

 

“Pesquisa Online sobre Nutrição e Humor COVID-19: Percepção sobre a dieta aspectos, estresse, ansiedade e depressão no isolamento social da doença de Coronavírus”

Autores: Leonardo Dias Negrão, Lara Cristiane Natacci, Maria Carolina Zsigovics Alfino, Vanderli Fátima Marchiori, Daniela Hessel Oliveti, Antônio Augusto Ferreira Carioca. Orientação: Elizabeth Aparecida Ferraz da Silva Torres.