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O papel (essencial) das abelhas na Segurança Alimentar e Nutricional

Ouça esse texto na voz de Ana Maria

O alimento é nossa fonte essencial de vida.

É dele que obtemos os nutrientes necessários para nos mantermos saudáveis.

É através dele que nos relacionamos com outras pessoas, que alimentamos e mantemos nossa cultura viva, que criamos memórias.

E é através dele também que podemos influenciar nossa biodiversidade, que irá ditar a variedade de alimentos que temos acesso. 

Mas a biodiversidade não se limita a isso.

Ela engloba uma grande diversidade de organismos vivos de todas as origens, passando pelas diferentes espécies:

  • vegetais,
  • animais,
  • fungos,
  • microrganismos

e as relações que eles estabelecem em um determinado ecossistema.

Estas complexas interações dentro dos ecossistemas nos fornecem benefícios importantes, e, muitas vezes, essenciais, como água  e alimentos. 

Enfim, a biodiversidade é a nossa garantia de equilíbrio ecossistêmico.

Mas deixa a gente te contar uma coisa. 

Você sabia que a produção de grande parte dos alimentos que nós consumimos diariamente depende, parcial ou totalmente, de um serviço ecossistêmico essencial?

A produção de alimentos só ocorre devido ao processo de polinização. Já ouviu falar?

A polinização é a transferência de grãos de pólen das anteras (órgãos masculinos de uma flor) para o estigma (parte do aparelho reprodutor feminino) da mesma ou de outra flor. 

Embrapa

Esse processo pode acontecer através das ações do vento, da água, de aves, mas em sua maioria, quem faz esse trabalho tão importante para a manutenção da biodiversidade são as abelhas.

Nesse momento, a imagem que provavelmente veio a sua cabeça foi a daquela abelha com listras amarelas que tem uma ferroada ardida e que nos fornece mel, não é mesmo?

Mas deixa a gente te contar outra coisa:

Essa abelha, chamada Apis Mellifera, (ou abelha “africanizada”), como o nome diz, não é nativa da nossa região e sim de origem europeia, e faz parte de uma das 20.000 espécies de abelhas que existem no mundo.

Sim, além da Apis Mellífera estão sobrevoando por aí muitas outras espécies de abelhas de diferentes tamanhos, cores, formatos e comportamentos.

Aqui no Brasil, inclusive, temos centenas de abelhas nativas dos biomas nacionais e que possuem características bem diferentes em relação à abelha africanizada – como a ausência de ferrão.

São as chamadas abelhas sem ferrão, você conhece?

Essa imagem por exemplo, é da entrada de colônia da espécie de abelha sem ferrão Jataí, uma das mais conhecidas espécies de abelhas sem ferrão.

Foto de Julia Ciscato

Assim como diversas abelhas da tribo Meliponini também produzem mel, em menor quantidade do que a abelha Apis Mellifera, porém com sabores bastante específicos e com alto valor nutritivo.

Além dos produtos como méis, própolis e cera que as abelhas produzem, voltemos para o serviço que elas prestam que garante a comida em nossos pratos: a polinização.

Agora que vocês sabem que a abelha de listras amarela é apenas uma de milhares de abelhas espalhadas pelo mundo, vamos te contar outra coisa:

  • 76% das plantas utilizadas na alimentação dependem de polinizadores para sua produção.
  • E 66% das espécies polinizadoras são, adivinhem, as Abelhas.

Isso significa que, sem abelhas, a variedade de plantas diminuiria drasticamente, ou seja, a agrobiodiversidade seria fortemente impactada e com certeza nossos pratos sofreriam grandes consequências.

Quer alguns exemplos de alimentos que já teríamos que esquecer?

além de frutas nativas que fazem parte da nossa alimentação, como

Sem contar:

dentre tantas outras que teriam sua qualidade prejudicada pela falta de polinização.

Uau! Que tamanho serviço essas pequeninas prestam, não é mesmo?

Deveríamos realmente tratá-las como verdadeiras rainhas, mas, infelizmente, não é com esse respeito que estamos lidando com as abelhas.

É contraditório dizer, mas, a própria produção de alimentos é realizada, muitas vezes, de forma extremamente prejudicial para essas espécies.

Alguns exemplos do porquê são:

  •  a monocultura restringe a variedade de alimentos para as abelhas;
  • os agrotóxicos utilizados são extremamente tóxicos e tem efeitos letais;
  • o desmatamento diminui a disponibilidade de água, de alimento, de locais para construção de ninhos, além de interferir no clima impactando diretamente a vida das abelhas;

Ou seja, ao mesmo tempo em que a polinização e as abelhas são indispensáveis à produção de alimentos, as práticas utilizadas nos sistemas alimentares atuais só contribuem para a diminuição da população desses importantes polinizadores.

Sem abelhas nossa alimentação será significativamente impactada.

Por isso, é importante reconhecermos a importância destes animais e adotarmos práticas para sua conservação.

Mas como?

  • Diminuindo o consumo de carnes;
  • Comendo frutas, legumes e verduras especialmente os da estação e da sua região;
  • Consumindo alimentos produzidos em sistemas agroecológicos;
  • Aumentando a diversidade de sua alimentação;
  • Plantando espécies vegetais atrativas para as abelhas na sua horta/jardim;
  • Inclusive, você pode ir além e até ter caixas de abelhas sem ferrão no seu quintal.

Mas não se engane achando que só poderá fazer grande parte dessas ações se morar no campo.

As ações de criação e de proteção das abelhas nas cidades têm ganhado força nos últimos tempos, junto com as discussões sobre agricultura urbana, poluição, entre outros. 

Oficina de caixas racionais de criação de algumas espécies que ocorrem em São Paulo na oficina realizada pela empresa de educação ambiental Melipobee’s na Horta Comunitária da FSP/USP. Foto de Samantha Marques/Horta FSP
Viu como a temática das abelhas é rica e se relaciona com o nosso cotidiano? 

Se você ficou curiosa(o) em saber mais sobre a importância das abelhas, fique ligada(o) nas nossas redes sociais, estamos preparando um livro que tem as abelhas como protagonistas!

Esse texto foi feito à quatro mãos por:

Ana Maria Bertolini, mentora do Sustentarea, nutricionista e pesquisadora em Saúde Global e Sustentabilidade.

A riqueza da biodiversidade brasileira  está presente em suas pesquisas e ações em prol da segurança alimentar e da construção de sistemas alimentares mais sustentáveis.

“Conhecer e proteger a biodiversidade que nos cerca é essencial para nossa saúde, alimentação e bem estar”.

Ana Garbin, membra do Sustentarea, Engenheira de Alimentos, que já foi apicultura e hoje inclui as abelhas (TODAS elas) em seu trabalho de educação alimentar e socioambiental.

“Acredito que conhecer como o alimento chega no nosso prato é um instrumento poderoso de transformação.”

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