Dona Maria, Aninha, Julia e Carmem com a bandeira da Oficina Cultural da Mulher que acontece na comunidade.
Imagem de Alicia Sei

O poder da comunidade Feminista Menino Chorão: 

Mulheres agrofloresteiras na luta pela segurança alimentar e nutricional

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Essa é a Carmen Sousa.

Ela lidera uma área, literalmente fértil – em todos os sentidos – na comunidade Menino Chorão em Campinas. 

Na foto de capa dessa matéria capturada por Alicia Sei está

Dona Maria, Aninha, Julia e Carmem com a bandeira da Oficina Cultural da Mulher que acontece na comunidade.

(Na foto de Thaís Martínez Arcari , Carmen orgulhosa com sua colheita de cenoura para o almoço)

Imagem de Thais

Localizada no Campo Belo, às margens da Rodovia Santos Dumont, nos arredores do Aeroporto Viracopos, no município de Campinas/SP, está a comunidade Feminista Menino Chorão, onde vivem em torno de 350 famílias. 

A localização estratégica desta área a coloca em situação de constante especulação imobiliária, o que significa que, apesar da comunidade estar ocupando a região de forma regularizada, esta se encontra sob constantes ameaças de despejo.

Agrofloresta Comunidade Feminista Menino Chorão e aeroporto de Viracopos ao fundo. Imagem de Alicia Sei

Mas, desde 2010, elas resistem! Como sempre gostam de enfatizar.

Ao lado de Carmen nessa caminhada estão Aninha, Josefa (Zefa), Marineide (Baixinha), Dona Maria, Elenise, Rosangela, Barbara, Lu, Veronica, Antonia, Lucicleia, Laudeci, Tatinha.

Mulheres que não temem em colocar a mão na massa e na terra.

Desde que se mudou para o Menino Chorão, Carmen carrega consigo um sonho para uma grande área que anteriormente era coberta por resíduos e lixo:

transformá-la em uma horta comunitária.

Um espaço para que as famílias de lá possam plantar e colher o que comer.

Como mais da metade das famílias brasileiras, a comunidade Menino Chorão também vive em situação de insegurança alimentar.

E foi em meados de abril de 2020,  nos primeiros meses da pandemia de Covid-19, que receberam um grande incentivo da Pertim, um coletivo recém formado por jovens agricultores, hoje composto por e Bianca Riet, Julia Junqueira, Sofia Furtado e Rafael Duckur.

A Pertim iniciou uma relação com o Menino Chorão através da doação emergencial de alimentos orgânicos, e avançou para o que hoje é sua missão de autonomia alimentar por meio do plantio de uma agrofloresta no terreno onde mora a líder Carmem.

O projeto é um exemplo da atual missão da Pertim que trabalha para expandir a ocupação de áreas urbanas periféricas com florestas de comida, na luta para que

todo ser humano possa recuperar a autonomia sobre si mesmo, cultivando seu próprio alimento e produzindo localmente tudo que for essencial para uma existência feliz e abundante. 

Além de desenvolver em conjunto com a comunidade todo o plantio, a Pertim

  • apoia a atuação e formação de três agricultoras que recebem um auxílio mensal,
  • implantou e mantém um sistema de irrigação e seus custos, e
  • organiza mutirões abertos a todos para manejo da área plantada.

O Sistema Agroflorestal (SAF) da Comunidade Menino Chorão abrange uma área de mais de 1300m2. Seu foco principal, mas de frutos futuros, são as 54 mudas de mais de 13 espécies de árvores frutíferas, além de 90 mudas de árvores secundárias, como banana e eucalipto.

Imagem de Alicia Sei

Entre elas, os cultivos de roça das milho, feijão, que já foram colhidos, vendidos, doados e beneficiados pela comunidade (500 espigas e 18kg respectivamente) e as estimadas 5 toneladas de mandioca que ainda estão por vir em agosto/setembro deste ano.

Da agrofloresta e da horta já foram colhidos, além do feijão e do milho, muito quiabo, maxixe, pepino, hortaliças, temperos alimentando as famílias enquanto cuidam das muitas frutas que virão assim que as árvores plantadas SAF comecem a produzir.

Mais que plantar e colher, essas mulheres da resistência também beneficiam muitos alimentos na “Cozinha das Pretas”, uma cozinha comunitária liderada por elas que fica dentro da horta.

E nós do Sustentarea tivemos o grande privilégio, não apenas de conhecer a horta, mas também provar do tempero e do carinho delas.

Ana Garbin, Dona Maria, Alicia Sei, Ana Maria, Julia, Carmen Sousa e Taís após almoço na Cozinha das Pretas. Imagem de Alicia Sei

Obrigada Julia Gussoni, da Pertim, por intermediar esse encontro potente e fértil

Almoço Preparado pela Cozinha das Pretas. Imagem de Alicia Sei

Dessa cozinha alegre e muito próspera saem refeições para a comunidade e para aqueles, que como nós, querem conhecer e visitar o trabalho destas mulheres.

Também são produzidos pães e pamonhas que ajudam na geração de renda e fomentam o sistema alimentar local.

A horta e a cozinha vivem de portas abertas. As crianças fazem desse espaço seu próprio quintal e são recebidas sempre de braços e corações abertos.

O espaço recebe ainda eventos comemorativos e educativos para a comunidade além de servir como contraturno para as crianças.

Fazem juz ao nome : COMUNIDADE

Mulheres da comunidade Menino Chorão

Obrigada por resistirem!

Obrigada por cuidarem da sua comunidade. 

Por cuidarem do nosso Planeta.

Imagem de Thaís Martínez Arcari

Saímos de lá esperançosas com tanta força, coragem e sabedoria.

Vocês estão mudando o mundo.

Obrigada por receberem o Sustentarea.

Para conhecer mais sobre a Pertim, visite essa edição da Revista Sustentarea

Esse texto foi produzido, a várias mãos, por:

Alicia Sei

Ana Garbin,

nascida e moradora da Cidade de Campinas, Engenheira de Alimentos que através da Alimenteia, atua com educação alimentar e socioambiental com o objetivo de disseminar e fortalecer todo o potencial que o alimento carrega na transformação do mundo.

Ana Maria Bertolini,

mentora no Sustentarea, nutricionista e pesquisadora em Saúde Global e Sustentabilidade pela FSP/USP. Acredita que os movimentos sociais e de resistência são alavancas para sistemas alimentares mais justos e sustentáveis.

Jennifer Tanaka,

doutoranda e mestre em Ciências Sociais pelo CPDA/UFRRJ, nutricionista pela USP que acredita que comer pode e vai mudar o mundo.

Júlia Junqueira

Produtora cultural, arte-educadora, educomunicadora (ECA USP 2017), aprendiz de agrofloresteira. Responsável pelo projeto educativo da Balaiar – Expressões da Terra, CSA de produção de orgânicos agroflorestais (Itatiba), gestora no coletivo Pertim de soberania alimentar com plantios agroecológicos na periferia (Campinas).

Thaís Martínez Arcari

Formada em Letras e tradutora. Em transição de carreira após se tornar vegana e aprender que a alimentação pode mudar o mundo. Hoje é membra do Sustentarea e estudante de Nutrição da FSP.

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