O “mais nacional dos pratos”, aquele que é tido como expressão para o que é básico, rotineiro ou ainda completo, o “feijão com arroz”, foi se estabelecendo como parte da identidade do Brasil nos últimos 100 anos.
O feijão está no Brasil desde muito antes da chegada dos portugueses. Há indícios de que o feijão-comum (Phaseolus vulgaris) espécie que contempla o feijão carioca, o rosinha, o pintado, o jalo, o rajado graúdo, o preto, o mulatinho, o roxinho e o vermelho graúdo foi domesticado na América Central e na região andina desde 4300 a 7000 anos, espalhando-se pelo território das américas. Assim, as primeiras civilizações desse continente já contavam com tradições de consumo de feijões com técnicas de preparo em panelas de barro, embora sem tempero, servindo de alimento junto ao milho e à mandioca. Já outras espécies de feijões foram trazidas e também incorporadas à cultura brasileira ao longo do tempo, como é o caso do feijão-caupi. De origem africana, essa espécie que engloba o feijão verde – também conhecido como feijão-macassar e feijão-de-corda (região Nordeste); feijão-da-colônia e feijão-de-estrada (região Norte) e feijão-miúdo (região Sul) – chegou por volta do século XVI e se adaptou muito bem ao clima e ao paladar local, especialmente no norte e nordeste, por ser muito resistente a períodos de seca.
A popularidade dos feijões só aumentou ao longo do tempo, à medida que foram incorporados a outros ingredientes — como arroz, farinhas de mandioca e de milho —, além de técnicas e temperos resultantes do processo de miscigenação dos povos. O prato foi ganhando mais sabor e versatilidade, tornando-se uma marca registrada da culinária brasileira. Hoje, é a base do acarajé e protagonista em preparações típicas como baião de dois, tutu de feijão, feijoada, feijão tropeiro, entre muitas outras receitas que expressam a riqueza da nossa diversidade alimentar. Se tornou, portanto, um aliado contra a fome, é sinônimo de “sustança” e se consolidou como alimento básico da alimentação do brasileiro desde o século XIX.
O cultivo da espécie do feijão-caupi (Vigna unguiculata) ou feijão-verde encontra-se principalmente nas regiões Norte e Nordeste, constituindo-se em um dos mais importantes componentes da dieta alimentar, especialmente da população rural, alcançando importância social e econômica.
Feijão Guandu – rústica espécie cultivada nos sistemas agroflorestais é um alimento com importância ecológica
O feijão guandu (Cajanus cajan), mais cultivado no Nordeste e em escala doméstica, é bastante presente em sistemas agroflorestais, como uma espécie muito utilizada para cobertura de solo e adubação verde (pelo potencial de fixar nitrogênio no solo), conferindo a ele importante contribuição para a recuperação de solos degradados. Além das sementes (maduras ou verdes, cozidas), outras partes comestíveis dessa PANC podem ser utilizadas em receitas, como as folhas jovens e vagens imaturas, apesar de serem um pouco duras nas variedades conhecidas no país.
A praticidade e rapidez do preparo dos feijões verdes ou imaturos torna seu consumo muito interessante, mas você sabia que a sua compra só é possível quando feita diretamente com o produtor? Além de garantir um alimento mais fresco, essa prática fortalece a economia local e contribui para sistemas alimentares mais sustentáveis. Esses feijões estão presentes em municípios da Mata Atlântica, que, segundo o IBGE, predomina em quase metade dos municípios brasileiros (49,2%, que correspondem a 2.741, incluindo diversos municípios do Nordeste e do Sudeste).
A equipe do Sustentarea visitou agricultores do Acampamento Marielle Vive em Valinhos/SP para conhecer a produção do feijão guandu de perto e adquirir as sementes verdes para o preparo de um vinagrete de feijão guandu. O vídeo com o modo de preparo está no Instagram do Sustentarea (https://www.instagram.com/reel/DJDAJTAxl1f/?igsh=MWpnN3ZhbTUyOWo0dA==) e você também pode conferir a receita abaixo:
Receita de vinagrete de feijão guandu:
- 1 xícara de feijão
- 1 tomate
- 1/2 cebola roxa
- 1 punhado de salsinha
- Meio limão tahiti
- 1 pitada de sal
- 1 fio de azeite
O primeiro passo é separar as sementes verdes. Em seguida, coloque essas sementes para cozinhar até ficarem macias, em torno de 15min.
Enquanto isso, prepare os demais ingredientes:
Corte o tomate e a cebola roxa em cubos e pique a salsinha.
Escorra a água do cozimento e misture as sementes com o tomate, a cebola e a salsinha. Em seguida, esprema meio limão, acrescente uma pitada de sal e um fio de azeite, misture tudo novamente e está pronto seu vinagrete de feijão guandu!


Referências
AGUIAR, P. H. S; LIMA, R. A. Fabaceae: importância ecológica do feijão guandu (Canajus cajanL.). Revista EDUCAmazônia -Educação Sociedade e Meio Ambiente, Humaitá, Vol XVI, Núm 1, jan-jun, 2023, pág. 172-180. Disponível em: https://periodicos.ufam.edu.br/index.php/educamazonia/article/view/11310/8105
IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. IBGE define bioma predominante em cada município brasileiro para fins estatísticos. Agência de Notícias IBGE, Rio de Janeiro, 28 jun. 2024. Disponível em: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/40519-ibge-define-bioma-predominante-em-cada-municipio-brasileiro-para-fins-estatisticos. Acesso em: 28 abr. 2025.
FERREIRA, C. M; BARRIGOSSI, J. A. F. Arroz e feijão: tradição e segurança alimentar. Brasília, DF: Embrapa; Santo Antônio de Goiás: Embrapa Arroz e Feijão, 2021. 164 p.
KINUPP, V. F.; LORENZI, H. Plantas alimentícias não convencionais (PANC) no Brasil: guia de identificação, aspectos nutricionais e receitas ilustradas. Nova Odessa, SP: Instituto Plantarum, 2014. 768 p.