Algumas considerações
A gestão do conhecimento é um processo em que os trabalhadores atuam como sujeitos no processo de capacitação em serviço.
A construção permanente do saber parte da necessidade apresentadas pelos trabalhadores nos contextos dos processos de trabalho e do acesso aos conhecimentos disponíveis na comunidade científica.
Nessa concepção de ensino-aprendizagem, o conhecimento e a transformação das práticas exigem um processo crítico do próprio trabalho, integrando as demandas objetivas com as experiências que se processam na prática, fundamentando-as na produção técnica e científica na área. Portanto, requer e, ao mesmo tempo, possibilita uma mudança cultural (de valores, atitudes, conhecimentos e procedimentos).
Tradicionalmente, a educação para a formação profissional foi compreendida como etapa de instrumentalização para o exercício da profissão. Na atualidade, esse paradigma, amplamente dominante, gerou outra visão, que concebe a educação como processo de construção com e para a autonomia, centrado em valores humanos, na formação do cidadão, na visão crítica e criativa. Nesse sentido, a dinâmica do conhecimento é compreendida de forma mais ampla; e o educador, como mediador desse processo. Trata-se de organizar a assimilação produtiva de um conjunto de instrumentos e conhecimentos que só poderá funcionar efetivamente com a mudança cultural. A transformação é de forma e de conteúdo.
A relação ensino-aprendizagem é orientada, de certa forma, pela demanda, o que torna as pessoas sujeitos de sua própria formação. Não é mais o caso de gerar o currículo adequado a partir de instâncias “superiores”, mas sim de corresponder às necessidades efetivas dos sujeitos e sua interação com o mundo.
Deve-se associar o processo educacional de uma comunidade ao conjunto dos seus esforços de modernização, desenvolvimento, cidadania e humanização. A questão não é questionar o universo formal de conhecimentos, e sim de integrá-lo ao processo real de transformação do cotidiano que os sujeitos demandam e vem sentido e significado.
Em outros termos, consiste menos em oferecer um “pacote” fechado de conhecimentos, e mais em se colocar a educação a serviço de uma comunidde que moldará o universo de conhecimentos de que necessita.
Objetivo do eixo
Identificar e socializar as propostas e os mecanismos criados para reduzir, de forma contínua, o tempo entre a produção do conhecimento em saúde na rede de atenção e nos diversos Centros de Excelência e a sua pronta utilização, de forma racional, no atendimento ao cidadão nos serviços do Sistema Único de Saúde (SUS).
Dimensões de análise, informações e indicadores
No Brasil, em 2003, o Ministério da Saúde assumiu a Educação Permanente (EP) em saúde como diretriz. A Política de Gestão da Educação no trabalho em saúde passou a desenvolver ações indutoras significativas no interior do SUS.
A responsabilidade em efetivar as diretrizes da EP em saúde no Estados deve ser compartilhada entre os gestores locais, regionais e estaduais, com a efetiva participação da sociedade: as instituições de ensino, as escolas técnicas do SUS, o movimento estudantil, os conselhos locais e municipais de saúde (conforme Portaria 1996 MS/DOU em 28/08/2007). Essa normatização amplia as possibilidades de organização das Comissões de Integração Ensino/Serviço (Cies) nas macrorregiões de saúde para realizarem ações que viabilizem as indicações das diretrizes.
A proposta da EP em saúde reconhece a importância do potencial educativo no processo de trabalho para a sua transformação; busca a melhoria da qualidade do cuidado, a capacidade de comunicação, o controle social e o compromisso social entre as equipes, com os gestores do Sistema de Saúde e com as instituições formadoras.
Na proposta da EP em saúde, os conteúdos e as metodologias dos cursos e as tecnologias a serem utilizadas devem ser determinados a partir da observação de problemas, necessidades e potencialidades existentes nos contextos do cotidiano do trabalho, objetivando uma atenção com qualidade aos usuários dos serviços prestados.
Na maioria dos casos, as necessidades são decorrentes de problemas de natureza institucional que envolvem os atores dos níveis local e/ou regional. A análise realizada de forma contextualizada possibilita descobrir a complexidade de sua explicação e a necessidade de intervennções articuladas.
São os atores envolvidos na prática cotidiana (dirigentes, profissionais em formação, trabalhadores, estudantes e usuários) que devem se ocupar do fazer, pensar e educar em saúde nas diferentes realidades. São esses atores que podem definir o que e como é preciso ensinar e aprender considerando os diferentes interesses e pontos de vista existentes na prática diária da atenção à saúde.
Prof. Dr. Marco Akerman
Prof. Dr. Pedro Dimitrov
O caderno n° 04 – série 01 do Eixo Temático: Gestão do Conhecimento foi publicado em setembro de 2009.
Acesse o material completo abaixo: