O símbolo escolhido para representar o INCT Combate à Fome é a planta ora-pro-nóbis, que traduz uma planta nativa, negligenciada e resistente, com valor simbólico para nossa cultura e sociedade. Representou a possibilidade de alimentação para populações vulneráveis de outrora, como os escravos. Seu nome científico é Pereskia aculeata, mas é conhecida popularmente como ora-pro-nóbis, e suas corruptelas, orabrobó, lobrobó ou lobrobô.

A ora-pro-nóbis é uma planta brasileira, alimentícia e medicinal, nativa no Sul, Sudeste e Nordeste do país. É arbustiva, de ramos longos e com espinhos, fixa-se como trepadeira nos apoios que encontra. As folhas são simples e carnosas, de 3 a 8 cm de comprimento. As flores, belíssimas, são de cor branca, mas tem variedades cor de rosa, e estão dispostas em inflorescências. Sua floração acontece em apenas um dia, com flores pequenas e perfumadas, que atraem as abelhas. Os frutos são redondos e de sementes pretas, e também são comestíveis. É uma planta rústica, perene, desenvolvendo-se bem em vários tipos de solo, tanto à sombra como ao sol. 

As folhas possuem valor nutricional bastante relevante, com teor de proteína que varia de 28% a 32% na matéria seca. Também apresenta quantidades consideráveis de minerais, como potássio, magnésio, zinco, mas especialmente cálcio e ferro, além de fibras e substâncias mucilaginosas. As folhas jovens e brotos podem ser consumidos crus, e se prestam a inúmeros preparos culinários. Há relatos, desde o início do século XX, do seu uso na culinária e em usos medicinais. Existem pesquisas que mostram que a planta tem ação antioxidante, antimicrobiana e anti-inflamatória. Na sabedoria popular, as folhas são usadas para a cicatrização de feridas. Estudos morfológicos recentes demonstraram os efeitos benéficos do seu extrato, corroborando  este uso popular da planta.

Há relatos de que a planta foi introduzida na alimentação pelos escravos africanos que a cultivavam em áreas menos produtivas das fazendas, como alternativa de alimento. Assim, a planta teve papel fundamental na alimentação desses e, por isso, ficou conhecida também como “carne dos pobres”. Conta-se que escravos do estado de Minas Gerais se utilizavam deste alimento em suas fugas. A partir daí, tornou-se elemento tradicional na culinária mineira, sendo o ingrediente principal do guisado com angu.

O nome popular ora-pro-nóbis vem do latim e significa “rogai por nós”.  Conta a lenda que esta planta era usada como cerca viva nas igrejas de Minas Gerais, mas que não era permitido colhê-la. Durante a missa, rezada em latim e de costas para os fiéis, o início da reza “ora pro nobis” era a senha para os escravos iniciarem a colheita.

Para finalizar, deixamos um poema, escrito pelo mineiro Joaquim José Lisboa, que em 1806 era alferes do Regimento Regular de Vila Rica, que cita a ora-pro-nóbis:

São fartas as nossas terras
De palmitos, guarirobas, Coroá cheiroso, taiobas
E bolos de Carimãs.
Destes bolinhos, Marília,
Usam muito aqueles povos,
Fazendo um mingau com ovos,
Quase todas as manhãs.
Temos o cará mimoso,
Temos raiz de mandioca,
Da qual se faz tapioca,
E temos o doce aipim.
Temos o caraetê,
Caraju, cará barbado,
O inhame asselvajado,
A junça, o amendoim.
Mangaritos redondinhos,
Batatas-doces, andus,
Quiabos e carurus,
De que se fazem jambés.
Temos quibebes, quitutes,
Moquecas e quingombôs,
Gerzelim, bolos d’arroz,
Abarás e manauês.
Temos a canjica grossa,
Pirão, bobós, caragés,
Temos os jocotupés,
Ora-pro-nóbis, tutus.
Também fazemos em tempo
Do milho verde o corá,
Mojanguês e vatapás,
Pés de moleque e cuscuz.

Joaquim José Lisboa, 1806.