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Comunicação e Saúde: curso do Programa de Verão traz ferramenta contemporânea, o podcast, e aproxima FSP e ECA

Disputar o imaginário social do que é saúde. Ampliar o conceito de saúde para a população em geral. Construir dispositivos de comunicação. Conectar saúde e comunicação. Ter ferramentas para se comunicar melhor. Foram essas as ideias que passaram pela cabeça do professor titular Marco Akerman e que o motivaram na criação do curso “A saúde que se comunica: linguagem, análise de experiências e práticas de produção em rádio e podcast”. O curso aconteceu na edição de 2019 do Programa de Verão da Faculdade de Saúde Pública da USP.

Akerman contou que a inspiração veio das aulas na graduação, nas disciplinas “Promoção da Saúde”, em que ele é o responsável, e “Comunicação e processos educacionais”, do colega Carlos Botazzo. “As disciplinas acontecem em paralelo, mas não há nenhuma interface entre elas e nós pensamos na comunicação, em criar uma junção e estabelecer algumas conexões”, explicou. “Estou trabalhando com a discussão de disputar o imaginário social do que é saúde para a população em geral, que tem a noção de que saúde são serviços de saúde. Para ampliar esse conceito de saúde, precisamos construir dispositivos de comunicação e, para isso, nada melhor que convidar um professor de outra unidade da USP, a ECA (Escola de Comunicações e Artes)”, disse.

A oportunidade veio e a ideia tomou forma com o curso que uniu comunicação e saúde, um dos 34 oferecidos no Programa de Verão deste ano. “Em um encontro com a colega Nina Wallerstein e com seu marido David, ambos da Universidade do Novo México (EUA), conheci o Eduardo Vicente, da ECA. Falei com ele da proposta, ele gostou e topou”, contou o professor que, além de coordenador deste curso, é atualmente o presidente da Comissão de Cultura e Extensão da Faculdade (CCEx FSP), responsável pelo Programa.

O professor da ECA Eduardo Vicente destaca a importância de estar na FSP, de dar aos alunos da área da saúde pública noções básicas da comunicação e de “poder oferecer instrumentos para aprimorar a comunicação no campo”.

Podcasts

Durante o curso, os alunos aprenderam sobre linguagem radiofônica, especialmente os podcasts, programas de áudio produzidos para serem ouvidos na hora que as pessoas quiserem e que existem desde 2004, mas que têm se tornado bastante populares nos últimos anos. Os alunos tiveram a oportunidade também de ouvir vários podcasts, de todo o mundo.

O nome podcast é junção e referência ao reprodutor de mídia portátil da Apple, iPod, e o termo broadcast, radiodifusão. “O podcast é um hábito de consumo de áudio que tem crescido com muita rapidez. Há estudos que dizem que, nos Estados Unidos, um quarto da população ouve podcasts regularmente e há no iTunes (programa da Apple que armazena e reproduz arquivos de áudio) mais de 400 mil podcasts, em mais de cem línguas diferentes”, explicou.

 

Prof. Eduardo Vicente e sua turma no Programa de Verão 2019 da FSP/USP. Foto: Adilson Godoy.

 

O professor contou ainda que, assim como no resto do mundo, o consumo de podcasts está crescendo no Brasil. “Podcasts podem ser ouvidos do mesmo jeito que música, enquanto as pessoas fazem outras atividades, como em caminhadas, no transporte público, dirigindo ou cozinhando, por exemplo”. Eduardo Vicente disse que a maioria dos meios tradicionais de comunicação já usa podcasts, funcionando como uma ferramenta a mais para a difusão da informação. “O consumo sonoro sempre existiu, claro, e há uma tendência de crescimento no uso dos podcasts. Há muitos caminhos para a produção de conteúdos interessantes para podcasts. Cursos de línguas são bastante populares e, fora do Brasil, também há muito conteúdo ficcional”, pontuou.

A contemporaneidade do tema do curso motivou os alunos a se inscreverem. Helena Dantas, aluna de graduação de Engenharia de Alimentos da USP Pirassununga, se matriculou porque trabalha em um projeto com uma empresa estrangeira para programas em mídia digital para desmistificar alguns conceitos e informações nas áreas de alimentos transmitidos pela mídia tradicional. “Achei o curso muito interessante, pois aborda toda a questão da produção de um podcast e, para quem nunca teve contato com isso, é essencial”, afirmou.

Marcos Dompieri, recém graduado em Saúde Pública pela FSP, pretende atuar com comunicação e saúde, pois vê importância em se comunicar, “em falar o que está acontecendo, de uma maneira fácil e acessível para todos, desde o meio acadêmico, passando pelos profissionais de saúde e chegando na população em geral”, afirmou.

A também ex-aluna de mestrado e doutorado da casa, Edlaine Villela, hoje professora da Universidade Federal de Goiás (UFG), pretende fazer podcasts com seus alunos. “Já fazemos algumas produções audiovisuais, com o objetivo de quebrar um pouco a metodologia tradicional de ensino e avaliação e agora vamos fazer podcasts”, disse.

A psicóloga Rayssa Karla Porto, de Cuiabá (MT), não tinha o curso como primeira opção. “O curso que eu escolhi, por uma intercorrência interna, não aconteceu na data prevista. Então, como eu já estava com a viagem marcada, escolhi esse curso e acabei me surpreendendo, gostei da dinâmica do professor e achei a turma muito produtiva. Gostei muito”, explicou.

A saúde que se comunica

Na área da saúde, há iniciativas no uso de podcasts, a maioria voltada para dicas de bem-estar, exercícios físicos e hábitos saudáveis. O Ministério da Saúde e a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo estão usando o podcast como ferramenta, há exemplos de podcasts que comentam sobre artigos científicos, como o da Sociedade Brasileira de Diabetes e há iniciativas que propõem o diálogo e o debate, como o Medicina em Debate, que aborda, em definição própria, “medicina, saúde, política e opinião”.

Para o professor Eduardo Vicente, o uso dos podcasts na área da saúde pode ser explorado de diversas formas. “O podcast é uma ferramenta que tem qualidades, é mais simples que produzir vídeos, por exemplo. E a área da saúde tem que se perguntar como é possível fazer uso deles, mas há várias possibilidades”. Podem ser feitos podcasts que combatam as muitas fake news circulando e geram movimentos como os anti-vacinas, por exemplo, que podem fazer com que doenças antes erradicadas voltem. Além disso, podcasts podem debater e discutir as muitas questões de mudanças nas políticas públicas que têm acontecido, com retrocessos que podem afetar a vida de muitas pessoas. “O podcast pode ser usado, inclusive, como instrumento terapêutico, para pessoas com transtornos mentais, por exemplo”, exemplificou Vicente.

O professor da ECA ressaltou a importância de estar na FSP e de oferecer instrumentos para aprimorar a comunicação na área, não só para os profissionais de saúde, mas também para a população em geral e pretende estar no próximo Programa de Verão, “para formar mais alunos para trabalharem com podcasts”. Eduardo Vicente se colocou à disposição para uma parceria mais duradoura, lembrando que a ECA possui estrutura de produção para atender a FSP no que for necessário.

Marco Akerman também destacou a importância da parceria entre a FSP e a ECA, “vamos estreitar relações”. O professor enfatizou a importância da comunicação na saúde. “Espero que esse curso do Eduardo Vicente ajude a gente aqui da Faculdade a comunicar melhor a saúde”, finalizou.

Confira os depoimentos dos professores participantes:




 

Texto: Maria Thereza Viana Reis.