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Professor discute as bases científicas das recomendações de combate ao Coronavirus

Prof. Fredi Alexander Diaz Quijano, do Departamento de Epidemiologia da Faculdade de Saúde Pública da USP (FSP-USP).

 

A área da Saúde Pública tem se valido com grande força da epidemiologia para entender a difusão, a propagação e o comportamento das doenças nos grupos populacionais. Esse campo tem sido a ferramenta chave para nortear o dimensionamento dos equipamentos e serviços públicos de saúde e as necessidades de entrega de saúde para a população. Com a emergência do novo Coronavírus, países como a Itália, que tiveram dificuldades de dimensionar e adotar medidas restritivas desde o início da epidemia, enfrentam severos problemas de superlotação de seus serviços de saúde. Para que isso não ocorra, os epidemiologistas trabalham com uma medida para conhecer a transmissibilidade, ou seja, um cálculo que permite conhecer as taxas de transmissão de determinadas doenças e assim, orientar medidas preventivas. 

Segundo o professor Fredi Alexander Diaz Quijano, do Departamento de Epidemiologia da Faculdade de Saúde Pública da USP (FSP-USP), embora bem menor do que doenças como sarampo e rubéola, a transmissibilidade do COVID-19 tem se mostrado alta. Vários estudos têm relatado valores do seu número reprodutivo entre 2 e 4, ou seja, cada caso pode transmitir o vírus para até 4 pessoas. Mas, segundo os intervalos de confiança das estimativas, essa taxa poderia chegar até 8 para esse vírus.

O professor acredita que ao entender a lógica desse indicador, as pessoas poderão entender porque é tão importante seguir à risca as determinações das autoridades sanitárias. O chamado número reprodutivo  está determinado por fatores tais como o período em que um caso pode ser uma fonte de transmissão; a probabilidade da transmissão ocorrer em um contato; e a taxa de contatos. 

“Os dois primeiros estão relacionados aos fatores biológicos e, portanto, mais difíceis de modificar. O que é mais factível de controle é a taxa de contatos. É muito importante levar em conta esses fatores para entendermos a necessidade de isolamento social, mesmo entre pessoas assintomáticas”, afirma o epidemiologista.

Como a eliminação completa de contatos sociais é quase impossível, os epidemiologistas trabalham com margens aceitáveis de contato, de modo que o chamado número reprodutivo seja menor que 1 (quer dizer que, em média, um infectado transmite para menos de um suscetível). Para conseguir isso, seria necessário reduzir a taxa de contatos de cada doente em cerca de 90%. Diante das dificuldades para testar todos os casos suspeitos da doença, essa seria uma meta mínima razoável para todas as pessoas com sintomas respiratórios durante a pandemia, afirma o professor.

Por outro lado, estudos recentes mostram que 90% das infecções podem ser assintomáticas e, embora a probabilidade de transmissão desses casos seja menor, os assintomáticos acabam sendo a fonte de 79% dos casos clínicos, ou seja, dos que apresentam a doença e suas complicações. Assim, a importância epidemiológica das pessoas assintomáticas no ciclo de transmissão é muito grande, compara o professor. São essas pessoas que geralmente infectam os que desenvolverão doença grave, como ocorre com os idosos, observa.

No caso específico do COVID-19, os cálculos mostram que uma meta razoável seria reduzir a taxa de contatos em mais de 78% para os casos não detectáveis. “Essa seria a recomendação para todas as pessoas assintomáticas porque, não havendo logística nem recursos para realizar testes em massa, todos somos potenciais portadores da infecção”, afirma o professor Fredi.

Segundo o professor, o fato de o novo Coronavírus ser transmissível por aerossóis que podem ficar suspensos no ar por até 3 horas torna ainda mais necessárias as medidas de restrição e contato social. Além disso, o vírus pode permanecer viável por alguns dias em várias superfícies, daí a enorme importância da limpeza adequada dos espaços comuns e da higiene pessoal.

 

Leia o artigo detalhado sobre o tema neste link.