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Varíola de macacos tem o risco de se tornar endêmica fora do continente Africano, diz professor da FSP-USP ao “Saúde É Pública”
Acompanhe todos os episódios em: Podcast Saúde É Pública

Ainda não são conhecidos os motivos da chamada varíola de macacos estar se espalhando em diversos países, com um aumento do número de casos a cada dia. A doença se manifesta com sintomas mais brandos em relação à varíola humana e possui baixa virulência e letalidade. Apesar disso, os surtos do Monkeypox vírus pelo mundo devem ser monitorados de perto, com o risco da doença se tornar endêmica fora do continente Africano, alerta o professor Eliseu Waldman, do Departamento de Epidemiologia da Faculdade de Saúde Pública da USP. 

“O escape da infecção de humanos para animais dificilmente será controlado depois e a infecção poderá se tornar endêmica fora do continente Africano”, afirma o professor, em entrevista ao 23º episódio do “Saúde É Pública”, o podcast da FSP-USP. 

Na entrevista, Waldman explica o curso das epidemias de varíola humana no Brasil, compara episódios da evolução da varíola de macacos no mundo, traz detalhes sobre a segurança das vacinas contra essas doenças e comenta ainda os aspectos que demandam atenção dos países e das autoridades sanitárias.

Ao contrário do novo coronavírus e do sarampo, por exemplo, que são vírus do tipo RNA, de mutação muito rápida, o Monkeypox vírus é do tipo DNA, portanto, mais estável.  “O vírus isolado que está circulando tem semelhanças com o que ocorre na África Ocidental. Então se o vírus não mudou, quem mudou fomos nós e isto precisa ser melhor estudado. O que estamos fazendo para facilitar a dispersão desse vírus?”, questiona o professor. 

Algumas hipóteses foram levantadas, como a diminuição da proteção vacinal, já que a vacina contra a varíola humana — que protege também contra a varíola de macacos — teve seus programas suspensos há tempos. No Brasil, por exemplo, a vacinação de rotina contra a varíola humana foi suspensa em 1973. 

A varíola humana foi uma das grandes epidemias da história da humanidade e sua circulação foi declarada erradicada em 1980, após ampla campanha mundial de vacinação em massa, capitaneada sobretudo pelos países desenvolvidos. A vacina que se usou no passado não possui perfil seguro para uso em massa devido à ocorrência de eventos adversos graves. Por isso, só é utilizada como vacinação de bloqueio, ou seja, visa cercar um círculo de contágio para frear surtos.

Embora o Monkeypox vírus seja conhecido por causar a “varíola do macaco”, trata-se de um vírus que infecta roedores na África. Os macacos são provavelmente seus hospedeiros acidentais, assim como o homem. O período de incubação do vírus é de 7 a 14 dias, sendo que na primeira semana a transmissão é mais intensa. A transmissão se dá por gotícula ou por secreções do infectado e, portanto, também através de fômites (contato em objetos e/ou roupas contaminadas). O contágio ocorre a partir do início dos sintomas, como febre e aparecimento de lesões na pele, e dura até cair a última crosta das lesões, o que pode durar de 3 a 4 semanas. 

O tratamento costuma ser de suporte e podem ser incluídos antivirais mas, segundo o Prof. Waldman, muitos antivirais ainda estão em fase de avaliação.

 

O “Saúde É Pública” está disponível em diversas plataformas, incluindo o Spotify e o Anchor. 

Os episódios também são disponibilizados no Canal da FSP-USP no Youtube.

 

Podcast Saúde É Pública

23º episódio – “Varíola de macacos: devemos nos preocupar com uma epidemia?”

Com a participação do Prof. Eliseu Waldman.