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Doutoranda da FSP-USP recebe prêmio de melhor pôster na área de Toxicologia Ocupacional no Congresso Latino-americano de Toxicologia

A doutoranda Fernanda Junqueira Salles, orientada pela Profa. Kelly Polido Kaneshiro Olympio, do Departamento de Saúde Ambiental, no Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública, recebeu o prêmio de melhor pôster na área de Toxicologia Ocupacional no III Congresso Latino-americano de Toxicologia (ToxiLatin 2023).

O trabalho premiado apresentou resultados da sua tese de doutorado intitulada “O impacto da exposição química sobre o transcriptoma de trabalhadores formais e informais”. A tese será defendida no dia 22 de novembro de 2023 na FSP-USP.

Os objetivos do estudo consistiam em avaliar o impacto da exposição ocupacional na expressão gênica de trabalhadores formais e informais e determinar a concentração de elementos potencialmente tóxicos (EPT), como chumbo, mercúrio, zinco, cádmio, arsênio, entre outros, no sangue dos participante. Além de analisar os riscos de doenças associadas à exposição ocupacional.

O grupo exposto foi composto por trabalhadores informais que realizam soldagem de joias e bijuterias em ambiente domiciliar em uma cidade do interior do estado de São Paulo (SP) e por trabalhadores formais de uma siderúrgica em uma cidade do interior do estado do Rio de Janeiro (RJ). Enquanto o grupo controle incluiu moradores dos mesmos bairros dos trabalhadores, mas que não desenvolviam nenhuma atividade diretamente relacionada à exposição química.

Para encontrar os resultados, os cientistas coletaram mostras de sangue para determinação de glicose, insulina, perfil lipídico, EPTs e para análise transcriptômica em Microarray. Eles também determinaram a concentração de EPTs na urina, em SP. Todos os participantes preencheram questionários sobre hábitos, morbidade referida e exposição ocupacional. A associação entre exposição a EPTs e desfechos de saúde foi testada por modelo de regressão de Poisson multivariado.

De acordo com a pesquisa, pode-se verificar, nos trabalhadores informais, a existência de 16 genes superexpressos e 33 subexpressos em comparação com os controles (fold-change > 2). A análise de vias indicou genes enriquecidos em vias do processo inflamatório. Já nos trabalhadores formais, foram encontrados 20 genes superexpressos e 50 subexpressos, com vias relacionadas à resposta imune e ao processo de aterosclerose.

Como mostra a tese, a produção informal de joias de SP foi associada à exposição dos trabalhadores ao cádmio, com concentrações significativamente maiores na urina e no sangue dos trabalhadores comparado aos controles. Além disso, foi observada uma associação positiva entre as concentrações de cádmio no sangue e a glicemia. As concentrações de arsênio e chumbo também foram maiores no sangue dos trabalhadores informais comparado aos controles, sendo que participantes com concentrações de chumbo superiores a 2,6 µg dL-1 apresentaram prevalência de manifestações neurológicas 2,3 vezes maior (IC 95%: 1,17 – 4,58; p = 0,02). Não foram observadas diferenças significativas nos EPTs entre os grupos do RJ, provavelmente devido ao uso de equipamentos de proteção individual e à poluição ambiental na região.

Os resultados sugerem que a exposição ocupacional prolongada a elementos tóxicos pode levar a consequências negativas para a saúde e que as diferenças na expressão gênica estão associadas principalmente à inflamação e à resposta imune. No entanto, como aponta Fernanda, “os resultados exploratórios desta tese são um ponto de partida para estudos em populações sensíveis e pouco estudadas, especialmente, de países em desenvolvimento. Por isso, análises adicionais devem ser realizadas para investigar efeitos diretos e validar associações causais.”