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Pesquisa na FSP USP analisa a saúde dos professores

Fonte: Pixabay.

Investigar a repercussão do trabalho dos professores sobre sua vida pessoal cotidiana e a implicação dessa dinâmica sobre seu processo saúde-doença é o objetivo da Tese de Doutorado “Quando o trabalho invade a vida: um estudo sobre a relação trabalho, vida pessoal cotidiana e saúde de professores do ensino regular e integral de São Paulo “, de autoria do cientista social Jefferson Peixoto da Silva recentemente na Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, sob orientação da Profa. Dra. Frida Marina Fischer, docente do Departamento de Saúde Ambiental da Faculdade de Saúde Pública da USP.

Segundo o pesquisador, a revolução tecnológica e as mudanças no mundo do trabalho têm levado cada vez mais trabalhadores a realizarem parte das suas atividades em contextos que vão além dos seus domínios laborais tradicionais, chamando a atenção para os possíveis efeitos desta dinâmica sobre a saúde.

Jofferson observou que diversos estudos apontam para um cenário de precarização e recorrentes casos de adoecimento entre os professores, mas o modo como o trabalho repercute sobre sua vida pessoal cotidiana não tem recebido significativa atenção enquanto fator potencialmente patogênico, mesmo considerando que levar trabalho para casa seja algo comum entre eles e que isso se reflita de alguma forma na complexa relação entre trabalho e vida pessoal cotidiana.

Para realizar sua pesquisa, o Jefferson, fez uma ampla revisão da literatura científica existente sobre o tema, além de entrevistar 29 professores de educação básica atuantes em quatro escolas públicas, além dos quatro diretores dessas referidas escolas. Duas delas se dedicavam ao ensino regular (uma municipal e outra estadual), enquanto as outras duas, ao ensino integral (ambas estaduais). A idade dos participantes variou entre 29 e 61 anos e o tempo de experiência na docência entre 1 a 37 anos, sendo o público predominantemente do sexo feminino.

Esse material foi analisado sob a perspectiva das teorias da Saúde do Trabalhador e psicodinâmica do trabalho, recorrendo também a pressupostos da clínica da atividade, da ergonomia da atividade e da antropologia da saúde

A revisão de literatura revelou um conjunto de 155 estudos sobre trabalho e saúde dos professores publicados nos últimos 20 anos, com aumento dessas obras nos últimos 10 anos, e configuração do seguinte perfil: 1) Transtornos e problemas de saúde típicos; 2) Condições de trabalho e saúde; 3) Qualidade de vida; 4) Trabalho, carreira e fundamentos da ação docente. A codificação das entrevistas, por sua vez, conduziu-nos a cinco categorias temáticas: 1) Tipologias da vida cotidiana; 2) Prazer e sofrimento no trabalho; 3) Estratégias de conciliação entre vida, trabalho e saúde; 4) Percepção, concepção e experiências de saúde e doença relatadas; 5) Invasão multiforme da vida pelo trabalho.

Os depoimentos revelaram diversas fontes de sofrimento na vida e no trabalho dos professores, além de numerosos casos/experiências de presenteísmo, bem como o emprego de estratégias visando a conciliar tais dimensões com a manutenção da saúde.

Após essa análise do material coletado, o pesquisador detectou como resultado principal, o fato de que a maioria dos entrevistados demonstrou que sente sua vida ser invadida pelo trabalho de modo nocivo e que essa invasão não acontece de forma única e linear. Basicamente, ela se manifesta por meio de um estado de vinculação contínua com o trabalho (ou com algum abalo sofrido durante sua realização) – do qual o indivíduo não consegue se desligar, por mais que ele tente. Isso gera um estado de sofrimento e indisponibilidade prolongada para si e para o outro que prejudica a convivência familiar e social, além da própria recuperação para o trabalho.

Com base nestes resultados, o pesquisador concluiu que as agressões à saúde vivenciadas pelos professores no trabalho têm se projetado sobre a sua própria vida pessoal e se combinado a fatores de agressão advindos do contexto social. Neste, o desprestígio dos professores é crescente e retorna à escola na forma de perda de autoridade e até rejeição, produzindo frustrações repetitivas que contribuem para instituir um cenário de sofrimento social que se associa à invasão da vida pelo trabalho. Dado o sofrimento de amplitude social e de tipo patogênico que essa invasão multiforme produz, tal fenômeno pode ser considerado como mais um dos elementos que podem ajudar a explicar os recorrentes quadros de adoecimento desses profissionais.

Evento de divulgação da pesquisa:

O pesquisador participará do III Seminário “Trabalho e Saúde dos Professores: realidades do cotidiano docente”, que será realizado na Fundacentro no próximo dia 15 de Outubro para discutir esta e outras pesquisas realizadas sobre saúde dos professores.

Fonte: Assessoria de Comunicação da FSP/USP.