Bebidas ultraprocessadas incluem itens como refrigerantes e sucos de caixa

Entre os anos de 2002 e 2018, o brasileiro passou a comprar menos leite (integral ou desnatado) e aumentou a aquisição de bebidas ultraprocessadas. Este é o resultado de um estudo publicado recentemente pelo Nupens na revista Frontiers in Public Health.

Na condução da pesquisa, as cientistas Natália Oliveira e Daniela Canella, ambas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, analisaram dados de três edições da Pesquisa de Orçamentos Familiares do IBGE (2002-03, 2009-09 e 2017-18). Os inquéritos registram os alimentos comprados em lares brasileiros, além de outras informações importantes, como a renda familiar.

A investigação mostrou que a renda teve papel importante no consumo alimentar. No caso das bebidas minimamente processadas (como o leite), a queda foi maior em famílias de maior renda (de quase 200 ml por pessoa por dia para 120). Já nas compras de bebidas ultraprocessadas, lares de menor renda praticamente dobraram as aquisições ao longo dos anos (de 46 para 91 ml, tendência inversa àquela vista entre os lares mais abastados.

A pesquisa mostrou, ainda, que, enquanto o leite foi a bebida mais comprada em 2002-03, os refrigerantes tomaram o posto em 2017-18. As cientistas também constataram que lares com maior consumo de alimentos ultraprocessados costumam, também, registrar maior ingestão de bebidas do mesmo grupo.

A análise do consumo de bebidas é de extrema importância: um estudo da Universidade Federal do Rio de Janeiro mostrou que elas representam mais de 17% das calorias ingeridas diariamente no Brasil.

Os dados encontrados por Oliveira e Canella vão na direção contrária das informações obtidas pelo Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico, o Vigitel. A pesquisa anual do Ministério da Saúde vem mostrando uma redução no consumo regular de bebidas adoçadas (como refrigerantes e sucos artificiais) entre 2007 e 2016.

“Apesar da redução do consumo nas capitais brasileiras e no Distrito Federal, áreas cobertas pelo Vigitel, o comportamento parece não refletir no Brasil como um todo”, dizem as pesquisadoras no artigo. “Além disso, uma hipótese para a diferença nos resultados são as possíveis mudanças no tamanho das bebidas ao longo dos anos.”

Assim como os alimentos ultraprocessados, as bebidas estão associadas a doenças crônicas como obesidade, hipertensão e até alguns tipos de câncer. Para as autoras, é necessário fixar um objetivo relacionado à redução do consumo de bebidas ultraprocessadas no Plano de Ações Estratégicas para o Enfrentamento das Doenças Crônicas e Agravos Não Transmissíveis no Brasil (2021-2030), assim como fomentar outras políticas públicas sobre o tema, com vistas à promoção da saúde.

Leia a íntegra do estudo (em inglês).