O Nupens existe há mais de 30 anos, e consolidou-se como referência científica no Brasil e no mundo. Ao longo das décadas, dezenas de pesquisadores dedicaram esforços para produzir e compartilhar conhecimento. Essa história perpassa a trajetória de Carlos Monteiro, coordenador do Núcleo, que, no dia 22 de fevereiro, recebeu o título de Professor Emérito da Faculdade de Saúde Pública da USP. 

Monteiro possui graduação em Medicina, Residência e Mestrado em Medicina Preventiva, Doutorado em Saúde Pública, cursados na USP, e pós-doutorado no Instituto de Nutrição Humana da Columbia University.  Ele relembrou seu início de carreira na FSP, em 1975, quando começou a atuar como auxiliar de ensino do Departamento de Nutrição. Além do início da prática docente, foi na instituição que decidiu se tornar epidemiologista. Assumiu o cargo de Professor Titular em 1989.  

“Este título me honra e também me emociona”, discursou Monteiro. “Nos últimos dias, recordei muito do que vivi nesta faculdade desde que fui contratado como auxiliar de ensino, há quase 50 anos. Como em um longa-metragem, fui revendo as cenas mais marcantes: como cheguei aqui, o que fiz, os caminhos que trilhei e as pessoas queridas que me acompanharam nesses caminhos”. 

Ainda antes da década de 1990, quando o Nupens foi criado, a participação em pesquisas, como um inquérito antropométrico domiciliar com mães e crianças menores de 5 anos realizado no município de São Paulo, assim como a criação do Laboratório de Avaliação Nutricional de Populações (LANPOP) na USP, foram “essenciais para me convencer de minha vocação acadêmica e de que esta seria a minha casa por muitos anos”, contou. 

O contexto político também marcou seus primeiros anos na academia: “É preciso lembrar que seis anos antes, em 1969, o AI 5 promulgado pela ditadura militar havia aposentado compulsoriamente dezenas dos mais brilhantes e progressistas professores titulares da USP”. 

Sobre o Nupens, Monteiro registrou que o sucesso do grupo se deve, por um lado, “à sua capacidade de atrair pesquisadores e alunos de pós-graduação brilhantes e comprometidos com a ciência e a sociedade brasileira”, por outro,  aos diretores e colegiados da FSP, que “apoiaram sem restrições sua natureza interdepartamental e interinstitucional e suas especificidades e necessidades”.

Contribuições para a ciência 

Patrícia Jaime, coordenadora do Nupens e vice-diretora da FSP, afirmou que a entrega do título é um reconhecimento à “excelência no ensino, na extensão e na pesquisa, com grande relevância para a ciência e para a Saúde Pública em âmbito nacional e internacional”. Ela reforçou que Monteiro está entre os pesquisadores mais influentes do globo, e, no campo da Saúde Pública, é um dos 20 pesquisadores do mundo mais citados em 2023. 

Como exemplo de suas contribuições científicas, além da criação do próprio NUPENS, Jaime citou o sistema Vigitel, usado pelo Ministério da Saúde desde 2006. Através de contato telefônico, é possível monitorar determinantes de doenças crônicas não transmissíveis em todo território nacional. O sistema fornece informações necessárias para avaliar o cumprimento de metas do governo brasileiro no controle desses agravos. 

Monteiro também esteve à frente da conceituação da classificação Nova, que  cunhou na literatura científica e nas políticas públicas o termo “alimentos ultraprocessados”, e é utilizada no Brasil e no mundo como referência para repensar as teorias e práticas da Nutrição. Coordena o Nutrinet Brasil, maior estudo prospectivo sobre a relação entre alimentação e doenças crônicas já realizado no Brasil. 

Entre 1990 e 1992, trabalhou na Unidade de Nutrição da Organização Mundial da Saúde em Genebra e foi professor visitante das universidades de Bonn e Genebra. Desde 2005 é Editor Científico da Revista de Saúde Pública e, em 2007, integrou a Academia Brasileira de Ciências. 

A cerimônia ocorreu no anfiteatro Paula Souza, na FSP-USP, e reuniu pesquisadores, professores, amigos e familiares do professor, além de contar com a presença de Ana Estela Haddad e Helvécio Miranda, secretária de Saúde Digital e secretário de Atenção Especializada do Ministério da Saúde, respectivamente. 

“É um orgulho para nós ter Carlos Monteiro como Professor Emérito, a faculdade se engrandece com seu conhecimento e com este título que estamos comemorando hoje”, celebrou Leopoldo Antunes, diretor da FSP.