Leite achocolatado: alimento teve maior aumento entre as crianças que participaram do estudo

 

A prevalência do consumo de alimentos ultraprocessados por crianças aumentou na primeira infância, mostra um estudo do Nupens publicado recentemente na revista científica British Journal of Nutrition. Assinado por Caroline Costa, Daniela Neri e Carlos Monteiro, pesquisadores do Núcleo, além de cientistas da Universidade Federal de Pelotas, o artigo é resultado da análise de dados da Coorte 2015 da universidade, que vêm acompanhando dados de crianças que vivem na cidade gaúcha.

Os autores trabalharam com dados de cerca de 3500 crianças em dois momentos de suas vidas: quando tinham 2 e quando tinham 4 anos. A equipe investigou informações de saúde (altura e Índice de Massa Corporal) e de alimentação, analisando o consumo de alimentos ultraprocessados pelas crianças. Os ultraprocessados foram divididos em nove subgrupos. São eles iogurte, sucos em caixa/pó, biscoitos doces, doces em geral (pirulitos, chicletes, chocolates), salgadinhos de pacote, nuggets/hambúrguer/salsicha, leite achocolatado, refrigerantes e macarrão instantâneo.

Os resultados indicaram, no período de dois anos, um aumento no consumo de todos os produtos — à exceção do iogurte, que já era consumido pela maior parte das crianças participantes do estudo. O maior aumento registrado foi no consumo de leite achocolatado (43,3% das crianças aos 2 anos para 66,3% aos 4). Os alimentos mais prevalentes (para além do iogurte) foram os sucos em caixa/pó e doces em geral, ambos consumidos por mais de 75% das crianças aos 4 anos.

A tendência de aumento do consumo de alimentos ultraprocessados foi ao encontro de outros estudos recentes, como um artigo publicado por pesquisadores da Nova Zelândia que registrou aumento na participação de ultraprocessados na dieta de crianças aos 12, 24 e 60 meses.

Os autores do estudo também analisaram o número de subgrupos de ultraprocessados consumidos pelo público-alvo da pesquisa. Se, aos dois anos, a maioria das crianças consumia itens de três ou quatro subgrupos, aos quatro anos o consumo passou a incluir sete ou oito subgrupos. “Esse aumento reflete uma janela de oportunidade para que a criança experimente novos tipos de alimentos. Neste contexto, intervenções nutricionais, como a orientação no momento da introdução alimentar, podem reduzir o consumo de ultraprocessados”, comentam os pesquisadores no artigo.

Implicações à saúde

O artigo aponta, ainda, a associação entre um alto consumo de alimentos ultraprocessados e alto Índice de Massa Corporal (IMC) — uma relação já conhecida entre adultos, mas com poucas evidências científicas sobre o público infantil. Ao mesmo tempo, foi detectada uma relação inversa no comprimento das crianças. Ou seja, um maior consumo de alimentos ultraprocessados pode interferir no processo de crescimento.

Esses efeitos nocivos à saúde podem ser explicados por diversos mecanismos. Em relação ao IMC alto (indicador de sobrepeso ou obesidade), sabe-se que ultraprocessados costumam ter alta densidade energética (mais calorias por porção), com excesso de açúcares e gorduras e quantidades insuficientes de fibras. Além disso, costumam ser mais macios do que alimentos in natura, o que pode contribuir para o consumo mais rápido e frequente.

A ausência de um teor adequado de proteínas e de micronutrientes nesses alimentos é um fator que pode explicar os possíveis impactos no crescimento. O consumo de ultraprocessados também substitui alimentos in natura na dieta, fazendo com que a criança tenha menos acesso a uma alimentação adequada e saudável, o que pode ser crucial no desenvolvimento infantil.

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