A literatura científica já mostrou que um alto consumo de alimentos ultraprocessados está associado a desfechos negativos de saúde, como maiores chances de desenvolvimento de doenças crônicas. Recentemente, uma nova evidência científica mostrou mais uma possível consequência da ingestão desses alimentos: a síndrome metabólica.

A conclusão é resultado do artigo “Consumo de alimentos ultraprocessados e risco elevado de síndrome metabólica em adultos: ELSA-Brasil”, publicado na revista Diabetes Care, da Associação Americana de Diabetes. Pioneiro em avaliar o desfecho no público adulto, o estudo é assinado por pesquisadores de diversas universidades brasileiras — entre eles, Renata Levy, integrante do Nupens e da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

A síndrome metabólica ocorre quando há presença simultânea de diversos fatores de risco de origem metabólica e cardiovascular. Alguns dos componentes da síndrome são a resistência à insulina, a presença de hipertensão, de hiperglicemia e de obesidade, entre outros. Trata-se de um estágio avançado no desenvolvimento de doenças cardiometabólicas.

Na análise, os autores usaram dados do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (ELSA-Brasil), uma coorte com mais de 15 mil brasileiros de 35 a 74 anos habitantes de seis capitais (Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Vitória e Porto Alegre). Foram obtidas informações como idade, sexo, raça, escolaridade, histórico médico, tabagismo e consumo de álcool, entre outras, além de dados antropométricos (como peso, altura e circunferência da cintura) e de alimentação.

A presença de síndrome metabólica foi confirmada quando o participante tinha três dos seguintes cinco componentes: alto nível de glicose em jejum, alto nível de triglicérides, baixo colesterol HDL, pressão alta e obesidade abdominal.

O resultado indicou que, das 8 mil pessoas com dados válidos para participar do estudo, cerca de 2500 (31,1%) desenvolveram síndrome metabólica em um período de oito anos. Análises estatísticas mostraram que, a cada 150g diárias de ultraprocessados na dieta, o risco de desenvolvimento de síndrome metabólica aumenta em 5%.

“Um maior consumo de ultraprocessados (mais de 550g/dia), em comparação a um menor consumo (menos de 234g/dia), aumentou o risco de desenvolvimento de síndrome metabólica e, 19%, o que poderia representar um incremento de 6,6% na incidência do quadro entre os consumidores mais frequentes desses alimentos”, apontam os autores do artigo.

As conclusões se somam às crescentes evidências dos efeitos nocivos dos alimentos ultraprocessados na saúde humana, e podem apoiar políticas públicas de prevenção e manejo de doenças crônicas.

Leia o artigo (em inglês).