Dieta baseada em ultraprocessados pode ter impactos cognitivos | Foto: unsplash

Tema que chama cada vez mais atenção entre pesquisadores da área da alimentação, a relação entre alimentos ultraprocessados e a saúde mental ganhou, recentemente, novas evidências. Três artigos de cientistas brasileiros e chineses mostraram que pessoas que mantêm dietas à base de ultraprocessados estão mais susceptíveis ao desenvolvimento de doenças mentais, como a doença de Alzheimer e outros tipos de demência.

Uma das pesquisas foi feita com dados do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (Elsa-Brasil), que conta com integrantes do Nupens. Notícia em veículos como UOL, O Globo e Jornal da USP, o artigo registra a análise de informações de mais de 10 mil brasileiros entre 35 e 74 anos, por um período de dez anos. Os participantes foram divididos em quartis — quatro grupos organizados de acordo com sua ingestão de alimentos ultraprocessados. Os autores do trabalho observaram que aqueles que mais consumiram esse alimentos tiveram queda cognitiva 28% maior em comparação àqueles que menos consumiram. Foi detectada, ainda, uma queda nas funções executivas (capacidade de planejar e executar ações).

Ao jornal O Globo, a neurologista Jerusa Smid, coordenadora do Departamento Científico de Cognição da Academia Brasileira de Neurologia, comentou que existe uma relação entre danos nos vasos sanguíneos cerebrais e o surgimento de demências. Neste sentido, alimentos nocivos ao coração são, também, prejudiciais ao bem-estar cerebral.

A evidência se soma ao estudo Associação do consumo de alimentos ultraprocessados ao risco de desenvolvimento de demência (tradução livre), publicado no último mês de julho na revista científica Neurology. Assinada por um conjunto de cientistas da Universidade de Tianjin, na China, a pesquisa partiu da avaliação de dados do UK Biobank — uma coorte que reúne dados de saúde da população britânica. Foram selecionadas cerca de 70 mil pessoas com 55 anos ou mais e que não apresentavam demência quando entraram no Biobank.

O resultado mostrou que 518 participantes desenvolveram algum tipo de demência: entre os diagnósticos mais significativos, 287 tiveram doença de Alzheimer e 119 tiveram demência vascular. A relação com a alimentação foi confirmada: um maior consumo de alimentos ultraprocessados está associado a um maior risco de desenvolvimento de demências. Além disso, a substituição de ultraprocessados por alimentos in natura ou minimamente processados está associada a um menor risco de desenvolvimento de demências.

A publicação do artigo na Neurology rendeu um destaque em editorial na mesma edição da revista. No texto, as autoras Maura Walker e Nicole Spartano, da Universidade de Boston, relatam que “os pesquisadores demonstraram que a substituição 20% do peso de ultraprocessados de um dieta por uma proporção equivalente de alimentos minimamente processados está associada a um risco 34% menor de desenvolvimento de demência”.

Por fim, um terceiro estudo, publicado no início de julho, apontou para o impacto dos alimentos ultraprocessados na performance cognitiva de adultos estadunidenses. A pesquisa é assinada por Barbara Cardoso, Priscila Machado e Eurídice Steele — sendo as duas últimas pesquisadoras do Nupens.

O trio de cientistas usou dados da Pesquisa Nacional de Exames de Saúde e Nutrição dos EUA para analisar cerca de 3500 participantes com 60 anos ou mais. O estudo levou em conta, além dos relatos de alimentação, alguns testes relacionados à capacidade cognitiva. Os resultados apontaram que aqueles que consomem mais ultraprocessados tiveram pior performance no teste “animal fluency“, em que os participantes devem lembrar do maior número possível de animais em um determinado tempo. As autoras concluem que a redução do consumo de ultraprocessados pode melhorar a cognição entre adultos mais velhos. Acesse o artigo.