Foto: Alex Pazuello/Prefeitura de Manaus.
O antropólogo José Miguel Nieto Olivar, Prof. do Departamento de Saúde, Ciclos de Vida e Sociedade, da FSP-USP, integra a Plataforma de Antropologia e Respostas Indígenas à COVID-19 (PARI-c), que reúne pesquisadores indígenas e não-indígenas em uma análise inédita sobre a pandemia nas terras indígenas no país. A partir de uma rede composta por cerca de 80 pesquisadores, o trabalho se propõe a promover um diálogo interdisciplinar com o campo da saúde pública, investigando como os povos indígenas estão vivenciando a pandemia no Brasil.
A rede divulga seus levantamentos por meio de notas de pesquisa, documentários e, ao final do ano, estudos de caso estruturados a partir de três eixos de análise: 1. Saúde, Cuidado e Morte; 2. Mobilidade e Circulação; 3. Gênero.
Olivar coordena a Equipe Norte Amazônico junto ao Dr. Bruno Marques da Universidade Fedral de São Carlos (UFSCar) e à Dra. Flavia Melo da Universidade Federal do Amazonas (UFAM). De acordo com o professor, as investigações, majoritariamente feitas de forma remota, encontram desafios impostos pela pandemia:
“O trabalho tem sido rico, apesar das diversas dificuldades encontradas, como conexão com a internet em diversas regiões, por exemplo. Mas esta é a maneira que encontramos de fazer pesquisa em um momento de pandemia e temos conseguido mobilizar uma rede enorme de atores para realizar algo importante”, afirma o professor.
Olivar afirma que o trabalho busca contribuir com a construção de conhecimentos plurais que ampliem o controle da COVID-19. Por meio da mobilização e articulação com agências de saúde, a ideia é auxiliar no processo de identificação e implementação de estratégias efetivas contra os impactos da pandemia, tendo como ponto de partida os conhecimentos dos povos indígenas.
A partir das informações colhidas nas aldeias, a equipe Norte Amazônico produzirá dois estudos de caso, com os temas: “Parque das Tribos (Manaus/AM) & Kokamas (Alto Solimões): reivindicações territoriais, saúde e cuidado indígena no Amazonas” e “Mulheres indígenas e cosmopolíticas do cuidado no Alto Rio Negro”.
Segundo Olivar, chama a atenção “o protagonismo das mulheres do Rio Negro no movimento indígena e seus conhecimentos cosmológicos e políticos para o enfrentamento da situação”. Entre os conhecimentos que mobilizam a ação, o professor cita conhecimentos tradicionais sobre plantas, rezas, adoecimentos, formas de cura e de acesso aos remédios, sementes, animais, numa terra protegida. Mas inclui também os conhecimentos sobre acesso a financiamentos, projetos, redes e sistemas de comunicação, redes de cooperação nacional e internacional, ONGs, pesquisadores das áreas da saúde, redes de antropólogas e antropólogos em diversos lugares.
Como contribuição acadêmica, Olivar entende que os estudos elaborados pela PARI-c trazem importantes comparações de como diversos grupos indígenas responderam de maneira distinta e criativa à pandemia. O trabalho se propõe a promover um diálogo interdisciplinar com o campo da saúde pública.
“Observamos que as experiências pandêmicas são completamente diferentes, assim como as formas de enfrentamento da situação, considerando as condições territoriais dos grupos e a consistência dos seus conhecimentos ancestrais e de cura relacionados aos processos de colonização. É possível vislumbrar nessa realidade a limitação da imaginação sanitária e de suas normas e recomendações de prevenção. É uma visão reduzida que não encontra eco nas realidades indígenas, especialmente em um contexto pandêmico. Observamos como, em diversos contextos, isso é absorvido e superado, multiplicado, pela potência dos saberes, dos corpos e dos recursos de ação indígenas”, avalia o professor.
Todo material produzido pela Pari-c pode ser acessado na plataforma web www.pari-c.org e as publicações podem ser acompanhadas pelo twitter https://twitter.com/pari_c19. O projeto tem apoio do Conselho Médico de Pesquisa (MRC) da agência de Pesquisa e Inovação do Reino Unido (UKRI) e é fruto de um acordo de cooperação internacional entre a Universidade de Londres (City University), do Reino Unido, a Universidade de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), a Universidade do Sul da Bahia (UFSB) e a Universidade de São Paulo (USP).