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Em carta ao editor da Journal of Clinical Epidemiology, Prof. Fredi Quijano traz contribuições ao estudo das disparidades raciais em saúde

Em carta ao editor publicada no Journal of Clinical Epidemiology, revista internacional de alto impacto na área de epidemiologia, investigadores do Laboratório de Inferência Causal em Epidemiologia da USP (LINCE-USP) ilustram como muitas análises podem subestimar as disparidades étnicas nos desfechos em saúde.

De autoria do professor Fredi Alexander Diaz Quijano, do Departamento de Epidemiologia da Faculdade de Saúde Pública (FSP-USP), e Luís Ricardo Santos de Melo, enfermeiro formado na Universidade Federal de Sergipe (UFS), a publicação salienta a importância de reconhecer a sequência de eventos na quantificação do efeito de variáveis demográficas no prognóstico de doenças graves como COVID-19.

Os autores ainda argumentam que, embora algumas variáveis devam ser ajustadas ou controladas para obter medidas de efeito válidas, o ajuste para comorbidades pode apagar o efeito das disparidades étnicas em desfechos clinicamente relevantes, como a mortalidade. Isso porque diferencias étnico-raciais na incidência de comorbidades podem ser mediadoras do efeito da etnia nesses desfechos.

Para representar esses caminhos causais, os autores utilizaram diagramas acíclicos direcionados (DAGs), ferramentas intuitivas que orientaram conceitualmente o estudo dos determinantes da saúde.

Estrutura causal sugerida para avaliar o efeito da etnia nos desfechos da COVID-19 [Imagem: Reprodução/Journal of Clinical Epidemiology]

A contribuição foi bem recebida por um grupo de pesquisadores de Reino Unido, que aplicou o modelo teórico sugerido (ver figura). Annastazia Learoyd e colaboradores reanalisaram dados de pacientes hospitalizados por COVID-19 e confirmaram que as associações entre etnicidade e mortalidade intra-hospitalar por COVID-19 são mais fortes do que tinham estimado previamente. Dessa forma, os pesquisadores documentaram que a população negra tinha mortalidade significativamente maior (47% a mais) do que a população branca (https://www.jclinepi.com/article/S0895-4356(24)00017-9/fulltext), associação que não tinha sido identificada em anteriores análises (https://www.jclinepi.com/article/S0895-4356(23)00161-0/fulltext ).

Além disso, também identificaram que uma diferença identificada entre asiáticos e brancos tinha sido subestimada em aproximadamente 10%.

Consequentemente, a organização da sequência de eventos para diferenciar o papel das variáveis, como sugerido pelo modelo de Diaz-Quijano & Melo, permite obter estimativas válidas do efeito total de determinantes distais, tais como a etnia, sobre desfechos em saúde.

 

 

Para conferir a carta do professor Fredi Alexander Diaz Quijano, acesse.

Para baixar o artigo de forma gratuita até o dia 29/03/2024, a revista compartilhou o seguinte link: https://authors.elsevier.com/a/1iZSI3BcJQIQgd

Leia a réplica da comunidade científica sobre as consideraçoes de Quijano.