Artigo de pesquisadores da Cátedra Josué de Castro da FSP-USP aponta técnicas de bem-estar animal e biosseguridade para a redução do uso de antibióticos na produção de aves e suínos. O excesso de antibióticos na criação animal intensiva tem o potencial de tornar-se a principal causa de pandemias até 2050.
O uso de antibióticos na criação de sistemas concentracionários de aves e suínos contribui para o aumento da incidência de bactérias resistentes a antibióticos (antimicrobial resistance ou AMR-Bactéria) em seres humanos, em animais e no meio ambiente. A busca por respostas para a AMR-Bactéria tem ganhado destaque e se tornou uma das mais importantes preocupações da Organização Mundial da Saúde, visto que a resistência bacteriana tem demonstrado maior dano à saúde humana do que o inicialmente esperado pelos especialistas.
Devido ao excesso e inadequação do uso de antibióticos na criação animal intensiva, estima-se que até 2050 cerca de 39,1 milhões de vidas poderão ser perdidas diretamente devido à AMR-Bactéria. Cerca de 70% dos antibióticos produzidos em todo o mundo são utilizados para a criação animal intensiva e o Brasil está entre os maiores consumidores, junto com a China e os EUA. “O Brasil tem avançado em alguns aspectos relacionados ao uso de antibióticos na criação animal. Um exemplo importante é a retirada, em grande parte, do uso de antibióticos classificados como críticos para a saúde humana na função de aditivos promotores de crescimento. No entanto, ainda há desafios significativos a serem enfrentados. O principal entrave atual é o uso rotineiro de antibióticos com finalidade preventiva. Estudos indicam que, na produção de suínos, os animais recebem antibióticos em aproximadamente 70% dos dias de vida. Além disso, a quantidade de antimicrobianos utilizada em suínos no Brasil supera a da maioria dos países europeus”, afirma um dos pesquisadores do estudo, o veterinário e Doutor em Saúde Pública, Rafael Almeida.
Uma das medidas mais urgentes a serem implementadas é o estabelecimento de padrões mínimos de biosseguridade e bem-estar animal nas granjas produtoras de alimentos de origem animal. Tais práticas, além de reduzirem os custos relacionados ao uso de antibióticos, têm se mostrado eficazes em melhorar a eficiência produtiva do setor, ao minimizar perdas decorrentes de enfermidades e ao potencializar os resultados produtivos por meio da promoção do bem-estar dos animais. A transição para um modelo de produção que valorize o bem-estar animal, a biosseguridade e o uso racional de antibióticos contribuirá não apenas para a mitigação dos riscos associados à resistência bacteriana, mas também para a sustentabilidade da cadeia produtiva no longo prazo.
O que é a resistência antimicrobiana?
A resistência antimicrobiana (RAM) ocorre quando microrganismos (bactérias, fungos, vírus e parasitas) sofrem alterações e adquirem resistência quando expostos a antimicrobianos (classe de medicamentos que, além dos antibióticos, inclui também antifúngicos, antivirais, antimaláricos e anti-helmínticos, por exemplo), dificultando o tratamento de infecções e ampliando o risco de propagação e gravidade de doenças infecciosas e culminando no aumento de mortes humanas e não humanas. As bactérias multirresistentes podem contaminar os seres humanos através dos animais, do meio ambiente ou dos alimentos e, dessa forma, representam uma grande ameaça à segurança alimentar e à saúde pública.
Acesse o artigo “A viabilidade da produção de aves e suínos não deve (e não pode) depender de antibióticos”
Divulgação: Gabrielle de Paula – coordenadora de Comunicação Cátedra Josué de Castro (USP)