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Cientistas da USP criam novo índice para avaliar a qualidade da dieta considerando ultraprocessados

Pesquisadores da Faculdade de Saúde Pública da USP desenvolveram um novo índice para avaliar a qualidade da dieta da população brasileira, baseado nas recomendações de alimentação saudável propostas pela Associação Americana do Coração (American Heart Association – AHA, na sigla em inglês). O trabalho foi publicado na revista científica Frontiers in Nutrition.

“Este é o primeiro índice de qualidade da dieta que considera recomendações de uma dieta saudável para saúde cardiovascular e que inclui ultraprocessados em sua métrica”, explica Leandro Cacau, que criou o índice durante seu doutorado, realizado junto ao Programa de Pós-Graduação em Nutrição em Saúde Pública da FSP-USP. O trabalho tem a orientação da Profa. Dirce Maria Lobo Marchioni, do Departamento de Nutrição da FSP-USP.

O novo índice consiste em 11 grupos de alimentos, dos quais possuem efeitos benéficos na saúde cardiovascular: frutas, vegetais, peixes e frutos do mar, cereais integrais, leguminosas (feijão), nozes e castanhas, e laticínios. Ao passo que carne vermelha, bebidas açucaradas, carne processada e ultraprocessados devem ser evitados ou terem consumo reduzido.

“A inclusão de ultraprocessados no índice vai ao encontro do último relatório da AHA, que reconheceu o papel desses alimentos no risco de doenças cardiovasculares”, acrescenta o pesquisador.

O índice foi aplicado em mais de 14 mil brasileiros participantes do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (ELSA-Brasil). Os resultados demonstraram que os indivíduos atingem cerca de 38% das recomendações dietéticas para saúde cardiovascular.

“As mulheres, os idosos, os não-fumantes e os praticantes de atividade física possuem maiores pontuações no índice, indicando que possuem maior adesão às recomendações propostas para saúde cardiovascular, em linha com o que é recomendado pela entidade norte-americana. Além disso, o índice proposto foi associado com maior qualidade global da dieta avaliada por outro indicador, o que evidencia a validade do índice desenvolvido”, explica o autor.

Segundo Cacau, um índice de avaliação da dieta funciona como um instrumento capaz de avaliar se a população está seguindo determinadas recomendações dietéticas”, explica.  “Neste caso, os resultados poderão sinalizar se a população está atingindo as recomendações de uma dieta saudável para a saúde cardiovascular. É um tema importante, já que as doenças cardiovasculares são a principal causa de morte em âmbito global”, acrescenta.

Espera-se que o índice possa ser aplicado por outros pesquisadores e que ele seja utilizado em estudos que relacionem a dieta com desfechos de saúde, especialmente com hipertensão, diabetes mellitus e obesidade, fatores determinantes de doenças cardiovasculares.

A AHA publica anualmente um relatório sobre a situação mundial em relação as doenças cardiovasculares, incluindo os números prevalentes e incidentes, bem como seus meios de prevenção. O relatório orienta a adoção de hábitos de vida saudáveis, incluindo uma dieta rica em frutas, verduras, leguminosas, peixes, nozes e castanhas, enquanto moderada em bebidas açucaradas, gordura saturada e sódio, como fator de prevenção e controle de doenças cardiovasculares.

A pesquisa recebe apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e também contou com a colaboração de pesquisadores do Hospital do Coração de São Paulo, do Centro de Pesquisa Clínica e Epidemiológica do Hospital Universitário da USP e da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Acesse o artigo na íntegra aqui.

Imagem na home: Picsels