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Pesquisadora da FSP-USP mostra em artigo da Nature Metabolism que obesidade envolve fatores sistêmicos e estruturais

Lidar com o problema da obesidade na América Latina vai muito além de olhar a questão pela ótica simplista de que essa condição de saúde ocorre por má alimentação e pouca prática de atividade física. Um grupo de pesquisa envolvendo pesquisadores da FSP-USP, Universidad Autónoma de Mexico (Unam) e Unicamp concluiu que, longe de se tratar apenas de estilo de vida e sedentarismo, os indivíduos obesos estão nessa situação devido a fatores “sistêmicos” e “estruturais” e não apenas “individuais”.

O grupo elencou oito determinantes principais que contribuem para a obesidade: ambiente físico, exposição alimentar, questões econômicas e políticas, desigualdades e  iniquidade social, limitação do acesso ao conhecimento científico, cultura, comportamento e genética. Olhar para esses fatores sistêmicos e estruturais pode não apenas explicar o crescimento da obesidade na América Latina, mas também ajudar a construir políticas e ações estratégias mais eficazes, de acordo com os pesquisadores. 

“Desigualdade quanto à oportunidade de educação existe; relaciona-se ao nível socioeconômico, cor da pele, sexo, acesso à alimentação adequada, à prática segura de atividade física, a cuidados com a saúde. Pesquisadores desta Casa (NUPENS) possuem trabalhos muito reconhecidos neste campo”, afirma Sandra Roberta Ferreira Vivolo, uma das autoras principais do artigo recém-publicado na renomada revista científica Nature Metabolismo, intitulado “Determinants of obesity in Latin America”. O trabalho é também assinado por Yasmín Macotela, Lício Velloso e Marcelo Mori (autor correspondente ).

Apesar da evolução da tecnologia de medicamentos e do aumento do consumo desses fármacos, as perspectivas não poderiam ser piores. A obesidade está presente em todas as faixas etárias e as projeções indicam que em 2035, 24% da população mundial será obesa, contra uma taxa de 14% de obesidade no mundo em 2020.

A obesidade é responsável por taxas elevadas de diabetes mellitus tipo 2 (DM), hipertensão, dislipidemia, esteato-hepatite, síndrome dos ovários policísticos, depressão, certos tipos de câncer e vários outros distúrbios, traz o artigo. Tendo em vista as doenças associadas e o crescimento previsto da obesidade em todas as faixas etárias, com um aumento acentuado entre crianças e adolescentes, não é de se admirar que que a obesidade tornou-se uma importante agenda pública em todo o mundo e tem atraído investimentos de múltiplos setores da sociedade para abrandar este devastador problema de saúde pública.

De acordo com Sandra, os pesquisadores identificaram que o caminho de combate a esse grave problema de saúde pública pode ser mais promissor ao considerar as evidências de transmissão epigenética intergeracional. Assim, incluíram na análise a motivação da mulher para com sua saúde durante a gestação de um filho e a sua própria criação na infância. A pesquisadora enfatiza que o estudo colocou como foco estratégico mulheres e crianças, as quais seriam mais passíveis de mudanças.

“O impacto da alimentação da mãe na gestação, do aleitamento materno e dos alimentos oferecidos na infância está bem demonstrado. Porém, para que mães (e população em geral) possam adotar medidas de prevenção contra obesidade, é fundamental a mobilização de vários setores e o compromisso político forte e persistente”, afirma a autora. 

A cientista adverte que cabe aos profissionais da saúde várias ações bem conhecidas de estímulo aos hábitos de vida saudável. Por outro lado, é preciso ampliar o conhecimento e o acesso à ciência e à educação em países heterogêneos como Brasil e México. “Precisamos produzir conhecimento científico próprio da América Latina no campo da obesidade, envolvendo a esfera social e política e não apenas o aspecto biológico e, pensando nisso, o estudo possui um tópico dedicado ao aspecto do acesso ao conhecimento científico nos países em desenvolvimento”, complementa.

Sandra enfatiza a urgência de ser criada “uma força-tarefa anti-obesidade especialmente em países da América Latina, envolvendo todos os setores da sociedade”, afirma.

Acesse o artigo neste link.

Foto na home: Sandra Roberta Ferreira Vivolo/Arquivo Pessoal