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Como chegamos até os Sistemas Alimentares atuais?

Nem sempre produzimos comida como nos dias de hoje. A partir dos anos 1960, com a Revolução Verde, a produção de alimentos e o próprio ato de comer sofreram inúmeras transformações em nível mundial.

Mas por que a Revolução Verde causou tantas mudanças? E quais são as implicações delas para a sustentabilidade dos sistemas alimentares?

Foram estas perguntas que respondemos nesta parceria! Confira como chegamos nos sistemas alimentares atuais e o motivo de eles serem insustentáveis.

O modelo de produção de alimentos predominante foi construído sob forte influência da teoria proposta por Thomas Malthus, que defendia que a população mundial cresceria mais rápido do que a produção de alimentos, ou seja, em determinado momento faltaria comida suprir as necessidades de todas e todos

Impulsionado pela teoria malthusiana, o setor agrícola teve forte avanço com a Revolução Verde, que ocorreu a partir dos anos 1960. Ela se caracterizou pela produção massiva de alimentos devido ao emprego de tecnologia avançada e pelo uso de sementes modificadas e agrotóxicos

Assim, surgiu a agricultura convencional, que é caracterizada pela concentração de terras, produção de commodities, elevado uso de recursos naturais e emprego de transgênicos e agrotóxicos. Somada à pecuária, esse modelo produtivo causa elevado impacto ambiental, decorrente tanto da produção de alimentos quanto do desmatamento

Esse modelo de produção se reflete da mesma forma no processamento de alimentos, que é caracterizado pela retirada de nutrientes e refinamento dos grãos e da cana-de-açúcar. Isso não é tudo, já que os alimentos ultraprocessados, em que são adicionados sal, açúcar, gorduras e aditivos, estão cada vez mais presentes no dia a dia das pessoas

Desde a produção até a distribuição, o sistema alimentar se caracteriza também pelo elevado desperdício de recursos naturais e dos próprios alimentos produzidos, que percorrem grandes distâncias e chegam com preços mais elevados ao consumidor. Outro ponto de destaque é a valorização das grandes redes varejistas em detrimento dos pequenos produtores
O consumo de alimentos costuma ser igualmente insustentável e não saudável.

A elevada ingestão de carnes e de ultraprocessados, como fast food, bolachas, salgadinhos, doces e refrigerantes, bem como o baixo consumo de frutas, legumes, verduras e grãos integrais, afetam a saúde humana, além de desvalorizarem a cultura e o potencial da biodiversidade.

A insustentabilidade do sistema alimentar se reflete também no desperdício de alimentos em nível doméstico e na insegurança alimentar. Segundo pesquisa da Embrapa, a média de desperdício por família foi de 128,8 kg de comida por ano. Por outro lado, dados do II VIGISAN mostraram que, em 2022, 33,1 milhões de brasileiros estavam enfrentando a fome

Isso é um paradoxo, já que o Brasil é um dos maiores produtores de alimentos do mundo. Apesar disso, é importante levarmos em consideração que a produção de commodities, como a soja, tem aumentado, enquanto a participação da agricultura familiar tem diminuído. Com isso, se produz mais para outros fins que não a alimentação humana.

Mas essa não é a única explicação para o aumento da fome. Outros fatores relacionados à insustentabilidade do sistema alimentar afetam o acesso aos alimentos. E isso nos remete ao primeiro ponto levantado neste post: o problema da fome é, de fato, decorrente apenas do crescimento populacional?

O modelo de produção de alimentos atual se justifica, já que ele sequer consegue garantir a segurança alimentar e nutricional?

 

Post por Gabi Manzini (@gabi_pman) e Alisson Machado (@alissondmach).

 

 

Referências:
Martinelli SS, Cavalli SB. Alimentação saudável e sustentável: uma revisão narrativa sobre desafios e perspectivas. Ciênc Saúde Coletiva. 2019;24(11):4251-61.

Machado AD, Estevez D. Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e sistemas alimentares. In: Marchioni DML, Carvalho AM. Sistemas alimentares e alimentação sustentável. Santana de Parnaíba: Manole; 2022. p. 44-54.


Porpino G, Lourenço CE, Araújo CM, Bastos A. Intercâmbio Brasil – União Europeia sobre desperdício de alimentos: relatório final. Brasília: Embrapa; 2018.
Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional.

II Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil. São Paulo: Rede PENSSAN; 2022.

Chamma A, Barretto A, Guidotti V, Palmieri R. Produção de alimentos no Brasil: geografia, cronologia e evolução. Piracicaba: Imaflora; 2021.

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