Sistemas alimentares dos povos de matriz africana (Apresentação (169))

Sistemas Alimentares dos Povos de Matriz Africana

Você já parou para refletir como essa comunidade pensa e aborda questões relacionadas à alimentação e à agricultura? Veja abaixo!

Nos posts da semana passada falamos sobre os sistemas alimentares dos povos originários e tradicionais, que além de oferecerem alternativas mais sustentáveis ao modelo produtivo predominante, também contribuíram para a formação dos hábitos alimentares da população brasileira.

Antes de prosseguirmos, quem são os povos tradicionais de matriz africana?

Comunidades que se organizaram a partir de valores civilizatórios e culturais dos povos africanos, que foram trazidos ao Brasil de maneira forçada durante um sistema escravagista que perdurou quase 400 anos. Esses grupos possuem territórios próprios caracterizados pela solidariedade e prestação de serviços à sua comunidade.

É importante considerar que há uma grande diversidade de povos africanos que foram trazidos ao Brasil, não sendo possível fazer referência a apenas um deles. Apesar disso, eles podem ser agrupados em três troncos principais:

BANTUS – JEJES – IORUBÁS

Mesmo com suas diferenças, esses povos e comunidades têm como princípios fundamentais o respeito à terra e à ancestralidade.

Além disso, parte dos elementos que compõem os sistemas alimentares dos povos de matriz africana se deu por conexões construídas junto aos povos originários.

Eles utilizavam os saberes ancestrais do conhecimento da terra para utilizar as folhas e frutos disponíveis no território, até que as plantas que consumiam no continente africano chegassem ao Brasil.

Os sistemas alimentares dos povos de origem africana englobam conexões simbólicas, culturais e sagradas no manejo produtivo do agroecossistema, nas interações sociais e de alimentação, e nas relações com os territórios.

Como é no território que eles baseiam suas práticas de alimentação, não há como pensar em seus sistemas alimentares sem considerar o direito à terra como um de seus alicerces

Veja um exemplo desse equilíbrio e respeito ao ambiente em que a comunidade habita:

A pesquisa Presença do Axé mostrou que a maioria dos terreiros do RJ desenvolviam atividades comunitárias, envolvendo ações de assistência social e combate à fome, auxiliando na garantia da segurança alimentar e nutricional.

Além disso, nas comunidades de terreiro, o alimento é algo que vai além da função de nutrir e saciar. É também a força vital que liga esses grupos com os seus ancestrais e com o universo.

Os sistemas alimentares dos povos de origem africana fazem oposição ao modelo hegemônico atual, baseado na monocultura, uso de agrotóxicos, destruição da biodiversidade e alta oferta de alimentos ultraprocessados.

Esse contexto coloca esses grupos em condições desiguais de acesso à terra e à comida, impactando não apenas a soberania e segurança alimentar, mas também a própria cultura.

E nos deixam a seguinte reflexão:

Para os povos de origem africana, o ato de comer significa honrar a ancestralidade e lutar pela própria existência dentro desse cenário de país colonizado

Assim, as escolhas cotidianas do que consumimos nos permitem questionar as imposições alimentares, visando o fortalecimento dos saberes, práticas e cultura alimentar ancestral

Referências


Brasil. Plano nacional de desenvolvimento sustentável dos povos e comunidades tradicionais de matriz africana 2013-2015. Brasília: SEPPIR; 2013.


Banaggia G. FONSECA, Denise Pini Rosalem da & GIACOMINI, Sonia Maria. 2013. Presença do axé: mapeando terreiros no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Pallas. 188pp. Mana. 2014;20(2):411-4.


Egger DS, Silva VC. Caderno de experiência de pesquisas em saúde e povos tradicionais de matriz africana para a promoção de Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional. Rio de Janeiro: Ed. dos Autores; 2022.

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Post por Gabriel Ferrari (@gabrieltoninf), Letícia Maximiano (@leticia.maximiano) e Gabi Manzini (@gabi_pman).

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